Com centenas de mortos da Quarta-feira Negra ainda por sepultar, o Egipto prepara-se para um novo dia de protestos depois de a Irmandade Muçulmana ter apelado aos seus manifestantes que saiam à rua para uma “Sexta-feira de Raiva”. Desafiando as críticas internacionais ao massacre desencadeado pela operação policial contra os acampamentos islamitas, o Governo interino avisou que a polícia tem autorização para usar balas reais.
O último balanço oficial confirma que mais de 800 pessoas morreram desde quarta-feira no Egipto, na esmagadora maioria no Cairo, onde a polícia usou balas reais para dispersar os apoiantes do Presidente deposto Mohamed Morsi que desde o início de Julho ocupavam duas praças no Leste do Cairo. Depois disso, a violência espalhou-se a várias partes da capital e também a diferentes cidades, com confrontos que opuseram os islamitas às forças de segurança e aos apoiantes do Governo interino (tutelado pelo Exército)
O estado de emergência e o recolher obrigatório – imposto entre as 19h e as 6h do dia seguinte – asseguraram uma acalmia da situação nas últimas 24 horas, apesar de manifestações em Alexandria e no Cairo terem terminado com o incêndio de edifícios governamentais.
Mas a violência pode regressar após as orações semanais de sexta-feira, depois de a Irmandade ter chamado os seus milhões de apoiantes às ruas para uma nova “Sexta-feira de Raiva” – nome porque ficou conhecido o mais sangrento dos dias de protesto que antecederam a queda de Hosni Mubarak, em 2011. “Apesar da dor e lamento pela morte dos nossos mártires, os últimos golpes criminosos aumentaram a nossa determinação para acabar com eles”, lê-se num comunicado do movimento islamita que, depois de ter vencido todos os escrutínios realizados desde 2011, luta agora pela sua sobrevivência.
Gehad El-Haddad, porta-voz da Irmandade e um dos poucos dirigentes que não foi ainda detido, admite que os protestos poderão fazer regressar a violência, mas afirma que “depois das detenções e mortes, as emoções estão demasiado elevadas para serem comandadas por alguém”.
Um risco que é maior face ao apelo lançado pela Frente de Salvação Nacional, coligação de partidos liberais que apoiou o golpe de 3 de Julho, ter pedido aos seus manifestantes para saírem também à rua, noticiou a BBC. Alguns bairros organizam-se também para impedir a passagem dos manifestantes pelas suas zonas e os cristãos coptas, a principal minoria do Egipto, organizam-se para impedir que mais igrejas sejam atacadas.
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