segunda-feira, 18 de maio de 2015

O FILHO DO PAI E O FILHO DA PUTA - A PALAVRA COMANDANTE NÃO ASSENTA NESTE ANIMAL QUE DEVE SER EXPULSO DA PSP.



O Benfica tinha acabado de ser campeão e, em Guimarães, um polícia agride um homem à frente do filho, que fica a gritar apavorado. Em artigo de opinião, Pedro Santos Guerreiro escreve sobre as imagens que marcaram o domingo que deveria ter sido de festa.                     

Estávamos em Guimarães, era dia de Benfica campeão e um polícia enfia um enxerto de pancada num homem à frente do filho, que fica a gritar apavorado, nem dez anos terá, o pai no chão a ser algemado pelo mesmo agente que, pelo caminho, ainda deu um banano num homem mais velho ante um outro filho, este adolescente, tinham ido todos juntos à bola, levaram com um agente desembestado, munido de bastão e escolta, e agora a PSP vai analisar. Não precisa de analisar, precisa de agir. O que deveria ter sido uma noite para lembrar foi uma noite para esquecer. Adeptos do Benfica vandalizaram e agrediram em Guimarães. Claques ou gangues ou bêbados ou lá o que foi destruíram garrafas, destruíram o Marquês e destruíram a festa do Benfica, precipitando uma carga policial que levou a eito no centro de Lisboa. Mas o caso do pai açoitado em Guimarães merece análise própria, não por ser mais relevante mas por ser desumano, não por ser uma agressão de massas que gera uma reação grupal mas por ser uma (supõe-se) provocação individual que recebe um, chamemos-lhe assim, excesso de força. Chamemos-lhe assim para não lhe chamar outra coisa: que uma besta quadrada com poder de lei para usar a força é um perigo no meio da rua onde passamos. Vamos supor que a besta quadrada até foi o agredido. O que vemos são só trinta segundos de imagens, não sabemos se aconteceu algo antes nem o que é dito durante. Sabemos que é inverosímil haver ameaça à ordem pública ou ao agente, dada a pacatez dos circunstantes, que aparentemente se estão a fazer difíceis em destroçar. Sabemos que a agressão máxima terá sido verbal. E sabemos que sabemos que aqueles trinta segundos vão mudar a vida daqueles miúdos para sempre. Mas sim, vamos imaginar que o homem que está prestes a levar uma tareia disse a pior coisa possível, que o homem mais velho pior ainda e até que os miúdos são uns selvagens. Mesmo que tudo isto tenha acontecido – e não é nada disso que se vê -, a reação do agente policial é injustificável, pela desproporção, pela gratuitidade da violência e pela cegueira de sovar um pai à frente do filho. Foi tão escabroso que há um polícia que acode imediatamente ao miúdo, afastando-o e tapando-lhe a visão. E foi tão evidente que o operador de câmara da CMTV, inteligente, cedo percebe que a “notícia” não é o homem que está a apanhar, é o miúdo que está a ver – para quem ele desvia a câmara. É evidente que, neste caso, o agente tem de ser expulso da força policial. “A PSP tem por missão assegurar a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos, nos termos da Constituição e da lei” – e nesta missão não há um asterisco que diga que “em certos casos é admissível que um agente perca a cabeça e esmurre famílias que à sua ordem não destrocem imediatamente dos muretes onde se demoram”. Até porque o agente é graduado, é comandante, é experiente – e dá medo pensar nessa experiência e em quem passou por ela... O que se passou no Marquês, repito, é diferente. O corpo de intervenção serve para “ações de manutenção e reposição de ordem pública” e “combate a situações de violência concertada” e é indiscutível que uma das coisas aconteceu: a ação do corpo de intervenção foi necessária, em causa está o grau dessa ação, houve civis feridos e polícias feridos. Em Guimarães, aquele miúdo viu o que miúdo nenhum pode ver. Só que desta vez nós também vimos. E se a CMTV não estivesse ali? A pergunta na verdade não é essa. A pergunta é: e quantas vezes a TV não está ali? E nesses vezes, a PSP faz o quê? Os agentes policiais que violam os princípios da lei e envergonham a sua própria força, o que lhes acontece? Não podemos tomar a floresta pela árvore mas é de árvores que a floresta se faz e a nossa floresta – de polícias, de pais e de miúdos – torna-se sã ou doente não só por causa destes casos mas pela forma como a tolerância ser torna ou não complacência e a impunidade se subverte ou não em aceitação. Aceitamos isto? Não. Claro que não. E isto, é um caso isolado ou é hábito na PSP? Nem um polícia em cada esquina nem uma câmara atrás de cada polícia nem um país onde ir à bola é um risco e nem sequer por causa dos vândalos mas por causa de quem nos deve proteger deles.

Pedro Santos Guerreiro

BI CAMPEÕES 2014/2015


segunda-feira, 4 de maio de 2015

SENHOR JESUS DAS CHAGAS - PADROEIRO DE SESIMBRA - 4 MAIO



Festa em Honra do Senhor Jesus das Chagas

Segundo reza a lenda, no século XVI, terá aparecido na praia, sobre um rochedo, a “Pedra Alta”, uma imagem de Cristo crucificado, que os pescadores devotamente levaram em procissão até à Igreja da Misericórdia, e a tomaram como seu santo padroeiro nomeando-o de Senhor Jesus das chagas.
As celebrações em honra do padroeiro dos pescadores de Sesimbra têm lugar nos últimos dias de Abril e na primeira semana de Maio, sendo os dias 3, 4 e 5 deste mês os mais importantes. É a festa principal da vila que se desdobra por novenas, sermões, pagamento de promessas e procissão, uma das maiores do sul do país, cujo percurso é semelhante ao que se fazia no século XVIII.
O início das festas dá-se com a realização de uma pequena procissão de transferência da imagem da capela da Santa Casa da Misericórdia para a Igreja Matriz. Esta procissão realiza-se ainda durante o mês de Abril e durante os dias em que aí permanece realiza-se a Novena.
O dia 4 de Maio é o da procissão em que a imagem do Senhor Jesus das Chagas percorre as ruas de Sesimbra. O pendão em que se inscreve a sigla S.P.Q.R. inicia a procissão, seguida da fanfarra dos Bombeiros de Sesimbra da Cruz da Irmandade e do duplo cordão das capas vermelhas. Segue-se a imagem do Senhor Jesus das Chagas e por fim seguem a banda e os devotos que cumprem promessas. A procissão dura aproximadamente duas horas, durante a qual há nove paragens obrigatórias e em que é feito um pedido de bênção. Ao longo do percurso quatro ou cinco dessas paragens são viradas para o mar e as restantes para a terra. Algumas das ruas onde passa a procissão são totalmente atapetadas de alecrim da Serra da Arrábida.
Originalmente a imagem partia da capela onde estava todo o ano. No final do século XVIII a imagem passou a ser trasladada para a Igreja Matriz dez dias antes da véspera do dia da procissão. Este facto deveu-se ao crescimento da população e ao aumento do número de participantes, que só a Igreja Matriz podia acolher.
No que respeita a organização, podemos dividi-la por três instituições:
- A igreja tem a seu cargo as cerimónias religiosas e organiza em complementaridade com a Comissão de Festas a procissão, a novena e as missas que se celebram nos dias festivos;
- A Câmara Municipal organiza o arraial, as actividades musicais, desportivas e o aluguer do espaço;
- A Comissão de Festas, composta por um Juiz e os chamados festeiros, em regra pescadores, coordena toda a organização da festa. A comissão muda anualmente, sendo costume o Juiz propor o seu sucessor. A proclamação do novo juiz é feita no decorrer das cerimónias sendo, na sua tomada de posse tomado um compromisso solene e público de levar a bom termo a realização das festas no ano seguinte.
A Festas das Chagas envolve, de forma mais ou menos assumida, uma força de religiosidade de todo um povo, que, embora mais ou menos descrente noutros momentos da vida, vai tentando compensar ao menos uma vez por ano a sua obrigação para com o grande Protector colectivo e a título individual.
As imagens de Cristo crucificado de grandes dimensões eram um imperativo em qualquer templo cristão, nos finais da Idade Média, pois, segundo diziam os pregadores, os fiéis, mal entrassem numa Igreja, deviam contemplar no Mistério da Paixão de Cristo as verdades essenciais da sua fé. Os acontecimentos da Reforma provocaram nos países protestantes a destruição ou mutilação de muitas imagens, ou a sua remoção dos altares. Em contrapartida, nos países católicos reforçou-se o culto das Imagens, sendo algumas delas encontradas nas praias ou no mar e reputadas como sendo provenientes dos países dos hereges. Terá sido o que aconteceu com a notável imagem do Senhor Jesus das Chagas, encontrada no século XVI por pescadores da Vila de Sesimbra e desde então objecto de grande devoção pelos sesimbrenses. Trata-se de uma Imagem tardo-gótica, em madeira de grandes dimensões, representando Cristo morto na Cruz, que a devoção popular cobre com cabelos humanos e com um sendal de tecido ricamente bordado. O resplendor da imagem é barroco, o mesmo podendo dizer-se da monumental cruz a que se encontra afixado. Quando sai em procissões, o andor é ricamente ornamentado com flores que significam mais do que uma vaidade de promessa, elas envolvem uma linguagem de ressurreição e que envolve o Crucificado em tempo pascal.
A imagem do Senhor Jesus das Chagas é classificada como sendo artisticamente simples, sociologicamente simbólica e cristãmente representativa. É uma imagem diferente e poderosa! Ao longo dos anos a devoção ao Crucificado tem estado sempre presente nesta tradição sesimbrense embora tenham havido algumas mudanças, principalmente na preparação para a procissão. Como tal, fomos falar com o Sílvio Couto, pároco da Paróquia de Santiago e um dos principais intervenientes na festa. Foi ele que nos explicou as mudanças que têm vindo a acontecer, embora “mais em pormenor e não nas questões de fundo”. Segundo o próprio “a expressão mantém-se, a forma de viver é que pode transformar-se, de acordo com cada tempo”.

Publicada por Mariposa