segunda-feira, 3 de agosto de 2015

QUINTA DA BACALHÔA, AQUI TÃO PERTO. ADEGA,QUINTA E PALÁCIO ESPECTACULARMENTE CUIDADOS



O segundo maior grupo vinícola nacional, pertença de Joe Berardo, tem sede em Vila Nogueira de Azeitão. E foi buscar o nome à quinta, em Vila Fresca, que o comendador adquiriu em 2000. Depois da casa arrumada, abriram-se as portas às visitas. Adega, pavilhão de envelhecimento de moscatéis, vinhas e palácio.

Há nomes que, pela sua dimensão simbólica, tendem a quase se banalizarem. São dados como valores adquiridos por terem entrado no ouvido de todos e, no entanto, se formos a reparar bem, não serão assim tão conhecidos da generalidade das pessoas. O conjunto formado pela quinta e o palácio da Bacalhôa é um desses casos raros em que a fama se tornou bem maior do que o proveito no que toca a receber visitas. Assumiu-se como referência de circulação garantida na boca de todos os amantes do vinho, sejam-no em maior ou menor grau, sobretudo desde que passou a fazer parte do universo de Joe Berardo. Mas muito boa gente nunca lá terá ido – um agravo ainda mais indesculpável para os que residem na área de influência de Lisboa, pois a quinta de Vila Fresca de Azeitão, Setúbal, deve ser das mais próximas e acessíveis propriedades vinícolas a quem reside na região metropolitana. E motivos para lá ir sobejam.
Ainda mais agora, que a Bacalhôa - Vinhos de Portugal acabou de estabelecer as bases do modelo de enoturismo para a sua casa-mãe. Dito de outra forma, as portas estão abertas a todos os que queiram conhecer de perto o local e a forma como se produz vinho na sede do segundo maior grupo nacional do sector – que, entre uma série de quintas, possui também a icónica marca Aliança. Muitas alterações foram realizadas nas velhas instalações de Azeitão, nas quais se congregam serviços administrativos e adega, a começar pela fachada do edifício. Ao local onde os turistas são recebidos foi assim conferida a actual cara lavada. É o início de um circuito bem estruturado, que leva os enófilos ou os simplesmente curiosos a conhecer os bastidores da produção vinícola de cerca de 300 hectares de vinhas espalhadas pela região da península de Setúbal, mas também das colheitas realizadas nas propriedades da empresa no Alentejo e dos tintos e brancos da Quinta dos Loridos, no Cadaval – onde se vinificam os seus espumantes.
Jóia da coroa
Mas, mais importante, é ali que começa um périplo que inclui também, caso os visitantes assim o queiram, uma deslocação às vinhas - não só as circundantes da adega, mas igualmente as que se localizam nas faldas da Serra da Arrábida – e ao palácio que dá nome à propriedade. A Quinta da Bacalhôa pode ser considerada como a “jóia da coroa” – sendo que aqui as referências aristocráticas estão longe de serem despropositadas, visto que se trata de uma antiga propriedade da Casa Real Portuguesa. Classificada como monumento nacional desde 1986, esta bela construção da primeira metade do século XVI mantém quase intactas as características que a tornam um dos melhores exemplos, senão mesmo o melhor, da arquitectura renascentista no nosso país. Na verdade, as suas origens são mais remotas e talvez seja melhor começar por contá-las, até para dar uma melhor sequência ao muito que há para dizer sobre esta casa histórica e entender o programa da visita que a inclui.
A quinta era já, em finais do século XIV, pertença da coroa portuguesa, funcionando como um refúgio de caça a sul de Lisboa de Dom João I (1357-1433), grão-mestre da Ordem de Avis. A ele se sucedeu o seu filho Dom João (1400-1442), Infante de Portugal, que viria a deixar a propriedade à filha, a Infanta Beatriz (1430-1506), também conhecida como Condessa Dona Brites. Foi ela quem decidiu realizar obras de ampliação da casa, da qual passou a fazer uso frequente até à sua morte. A condessa, mãe do rei Dom Manuel I, mandou edificar uma cerca torreada e um revestimento de modelo levantino. Nascia um palácio renascentista integrando elementos da arquitectura italiana, islâmica e portuguesa, onde pontificava um jardim de recorte italiano que, desde logo, granjeou fama. O esplendor do conjunto levou a que o filho dissesse da sua progenitora que “encheu o reino com as maravilhas da arte e os esplendores das indústrias decorativas”.
À italiana
A bisneta da condessa, Dona Brites Lara, a quem foi atribuída a posse da quinta, decidiu desfazer-se de várias da suas imensas propriedades na região e, em 1528, vendeu esta por dez mil cruzados de ouro a Brás de Albuquerque, filho de Afonso de Albuquerque, o vice-rei da Índia. O novo e abastado proprietário procedeu a obras de reabilitação e ampliação inspiradas, em grande parte, numa viagem que realizou a várias cidades italianas, em meados do século XVI. Estudos historiográficos apontam como uma das possibilidades para explicar a designação da propriedade à época, Quinta do Bacalhau, o facto de ela ter pertencido a Dom Jerónimo Manuel, conhecido como “o Bacalhau” e que nela viria a falecer em 1602. A razão para tal justificar-se-ia por esse ramo da família se dedicar à comercialização do referido peixe. De acordo com os mesmos documentos, em 1730 ainda assim se chamaria, passando a ser apelidade de Bacalhôa após a administração de Dona Francisca de Noronha.
A riqueza decorativa dos jardins e, sobretudo, dos seus azulejos granjearam, desde cedo, fama para o palacete de Azeitão. A Quinta da Bacalhôa - que tem no lago e na casa que lhe é adjacente, com ampla vista para a restante propriedade, outras duas admiráveis marcas – passou por diversas mãos, ao longo dos séculos. Até ser adquirida por Omela Z. Scoville, em 1937. A milionária norte-americana iniciou então os trabalhos de recuperação de um edifício que se encontrava em avançado estado de degradação, após longo perído de incúria. O restauro foi moroso e não surpreende que, seis décadas depois, quando o seu neto colocou à venda a propriedade, o valor pedido fosse muito elevado. Em 2000, o empresário Joe Berardo adquiria-a, fazendo dela um dos seus mais simbólicos activos. Além de moradia particular, onde o comendador e a família se deslocam com frequência, o palacete funciona como galeria de arte, hostentando um avultado acervo de peças de pendor clássico, algumas da Antiguidade, como painéis de azulejos romanos.
Visitas

Para visitarmos essa importante colecção e o notável edifício onde ela se encontra, porém, é necessário deslocarmo-nos primeiro ao edifício sede da Bacalhôa Vinhos, também junto à EN 10, mas logo depois de se passar Vila Nogueira de Azeitão. É lá, aliás, que começam todos os périplos. Como já se disse, todas as visitas têm início junto à entrada principal do edifício-sede. Com a duração de uma hora, e por 2,5 euros (4 euros ao sábado), elas oferecem uma explicação detalhada da história da empresa – que até 2005 se chamava JP Vinhos – e dos processos produtivos dos diversos tipos de vinho ali feitos, garantindo ainda o direito a uma prova que inclui três vinhos: um tinto, um branco e um moscatel de Setúbal. Este último é, e sem desprimor para os restantes, o que melhor representa a região e as suas especificidades. Além disso, é sujeito a um processo produtivo bastante singular.
Uma forma bem reveladora de o perceber passa por, após uma elucidação teórica sobre o assunto dada por uma das guias, entrar no pavilhão de envelhecimento dos moscatéis velhos. Mas apenas por uns momentos. Pois o calor e, principalmente, a humidade verificados lá dentro são insuportáveis. Corrigimos: por vezes, há imenso calor, mas noutras é um frio cortante a impor os seus caprichos. Trata-se de um recinto onde as amplitudes térmicas são a regra, sempre acompanhadas de muita humidade. É o método escolhido para envelhecer este vinho, que, depositado em pequenos barris de carvalho americano de 180 litros, beneficia de uma maior concentração, intensidade e complexidade de aromas e sabores. Tudo acentuado pelo facto de a maioria dos barris ter vindo da Escócia, onde havia sido utilizada para guardar whiskey de malte.
Oliveiras e vinha
Para voltar a encher os pulmões de ar, nada melhor do que uma ida até às vinhas plantadas paredes-meias com a adega e o pavilhão de envelhecimento, mas também ao lago artificial existente ali lado. Para chegar até à linha de água, atravessa-se um prazenteiro jardim repleto de ervas aromáticas e onde o protagonismo maior é assumido por oliveiras com grossos troncos de formas singulares a denunciarem uma vida muito longa. Às dezenas, elas espalham-se por todo o recinto da Bacalhôa Vinhos e são parte de um lote de duas centenas de árvores milenares que o comendador Berardo comprou, provenientes da zona agora alagada pela albufeira da barragem do Alqueva. Distribuiu-as pelas suas propriedades, não apenas aqui.
Depois da visita a este espaço e de feita a prova básica dos vinhos da casa, o programa prevê, para quem o deseje, a deslocação numa carrinha da empresa ao palácio (cinco euros, 10 € ao sábado). Melhor ainda, e no mesmo veículo, pode-se subir à vinha da Serra da Ursa, nos contrafortes da Arrábida, onde estão os encepamentos de Moscatel e de Chardonnay. Um local fantástico, com uma vista a surpreender pela preciosidade de uma linha de horizonte que chega até Lisboa. Mas, atenção: para que isso aconteça é necessário reunir, no mínimo, seis pessoas (10 € durante a semana, 15 € ao sábado). Lá em cima, há uma pequena casa com um alpendre, onde se fazem provas de vinhos para os visitantes, permitindo-lhes desfrutar com calma da imensidão dos pontos de fuga do olhar. E na Bacalhôa ele tem muito por onde divagar.






Bacalhôa Vinhos de Portugal
Estrada Nacional 10
Vila Nogueira de Azeitão
2925-901 Azeitão
Telefone: 21 219 80 60
FAX: 21 219 80 86
Email: ana.leitao@bacalhoa.pt
palaciodabacalhoa@bacalhoa.pt
Web: 
www.bacalhoa.pt
GPS: 38º.31’25.90” N / 9º.01’0.07” O

Para além de receber visitas, o Palácio da Bacalhôa está preparado para acolher refeições de grupos. Para que isso seja possível, é necessário reunir um mínimo de 15 pessoas e entrar em contacto com os responsáveis pelo enoturismo. A Bacalhôa fecha ao domingo.

Classificação
Originalidade (máx. 2): 1,5
Atendimento (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx.4): 3
Venda directa (máx. 4): 3
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 3
Ambiente/ Paisagem (máx. 2): 2
Total: 17


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