Colisão com asteroide foi bem sucedida. NASA dá um passo gigante no teste de defesa planetário
Era uma missão suicida
desde o início. A sonda DART foi construída para ser destruída na missão da
NASA que testa a capacidade de alterar a rota de um asteroide no espaço, e o
impacto foi um sucesso. Falta perceber se teve o efeito desejado.
Pela primeira vez na história, uma sonda chocou
de propósito contra um asteroide. Não é um guião de um filme mas uma
missão real, que a NASA concretizou hoje com a colisão bem sucedida com a rocha
Dimorphos. A agência espacial e os cientistas garantem que é um momento histórico
e com um efeito relevante para a defesa planetária.
A missão vai contar no futuro
também com a ajuda da ESA e com tecnologia portuguesa para validar o efeito
real desta experiência de defesa planetária que pode ser crucial no
desvio de um asteroide considerado uma ameaça para a Terra.
Desde cedo que a Agência
Espacial norte americana confirmou que tudo estava pronto para que a espaçonave Double
Asteroid Redirection Test (DART) testasse a teoria dos cientistas.
Para a experiência foi escolhido um sistema de dois asteroide e o objetivo é
que a nave choque com a rocha Dimorphos, uma lua na órbita de Didymos —
que, por sua vez, é um sistema de dois asteróides descoberto em 1996 e que já passou
próximo da Terra.
A missão está a ser preparada há vários anos e a sonda está no espaço há 10
meses para uma missão suicida. O momento
pode ser acompanhado em direto através da transmissão da NASA TV, que teve
início às 23 horas de dia 26 de setembro e que o SAPO TEK seguiu ao
minuto. O impacto aconteceu quando passavam poucos minutos da meia noite desta terça feira, dia 27 de
setembro, em Portugal Continental.
Pode ver ou rever a transmissão dos últimos
minutos da missão DART
Na transmissão foram sendo vistas imagens em direto da sonda, quase em tempo real, à medida que esta se
aproximava do asteroide para a colisão que pode mudar a estratégia
de defesa planetária. A última imagem transmitida da superfície do asteroide,
antes da perda de sinal, confirma o sucesso da missão que ainda vai ser
validada por outros instrumentos.
"Estamos a mostrar que a defesa planetária é uma questão global e que
pode salvar o nosso planeta", afirmou o administrador da NASA, Bill Nelson, admitindo o sucesso da
primeira parte da missão.
Nas próximas semanas o efeito
do impacto vai ser acompanhado para verificar se o asteroide se desviou da
rota, e se a força aplicada foi suficiente para o resultado desejado.
Por isso a NASA diz que o dia de hoje é apenas um primeiro passo naquela que se
pode tornar uma solução relevante para a defesa do planeta.
Entre a excitação e a calma dos sinais positivos
da missão
Durante a transmissão da NASA, vários especialistas explicaram o que é a
energia cinética, e como a transmissão de energia da sonda para o asteroide
pode mudar a sua rota.
A sonda DART está a operar de
forma autónoma há mais de três horas e o controle de missão acaba de confirmar
que a rota está correcta, com o precision lock, um dos últimos passos de
confirmação antes do momento chave da colisão com o Dimorphos, a cerca de
18 minutos.
A excitação nas várias salas
de controle vai aumentando e quando faltam apenas 10 minutos para o impacto há
uma "confiança calma" com a certeza de que tudo está a
correr como planeado, explicam os cientistas no comentário da missão.
DART a poucos minutos do impacto créditos: NASA
A 5 minutos do impacto e depois de anos de
preparação, resta à equipa assistir ao impacto, como todos nós, já que a missão é
agora autónoma. Os comentadores lembram que há cerca de 30 segundos de atraso nas imagens, devido ao tempo de
comunicação entre a sonda e a Terra.
A menos de 2 minutos do impacto a clareza das imagens é impressionante,
mostrando em detalhe o asteroide.
Preparação para uma missão que pode mudar a
defesa planetária
Há mais de um mês que a NASA confirmou que as
primeiras medições feitas para a missão da sonda DART, ainda em 2021, estavam
correctas. Foi mais um passo para uma missão cuidadosamente planeada e que tem como alvo o asteroide que em 2003
já passou próximo da Terra, a cerca de 7,2 milhões de quilómetros, e que
voltará a aproximar-se no próximo ano, a "apenas" 5,7 milhões de
quilómetros de distância, cerca de 15 vezes a distância da Terra à Lua.
A operação está a ser conduzida pelo Johns Hopkins Applied Physics
Laboratory (APL), o centro de investigação da agência espacial norte-americana
em Maryland, nos EUA, e a
aproximação acontecerá a cerca de 24.000 km/h, com o objetivo de alterar a
trajetória do corpo celeste e não de o destruir.
A colisão vai transferir a energia cinética da nave para a rocha, empurrando-a para mais perto de Didymos e mudando a velocidade da órbita do asteroide secundário em redor do principal em 1%. Recorde-se que os “alvos” desta experiência têm 780 metros de diâmetro, no caso do asteroide principal, e 160 metros no caso do asteroide secundário, aproximadamente a mesma dimensão da Grande Pirâmide de Gizé.
O supertelescópio James Webb também está a observar a missão e vai ser um
instrumento relevante para avaliar os efeitos do impacto.
A força da energia cinética
Embora o sistema binário Didymos não esteja em rota de colisão com a Terra, a missão é um teste para ver se a tecnologia de impacto cinético funciona para desviar quaisquer potenciais rochas espaciais que ameacem o planeta Terra.
O sistema Didymos e a sua lua Dimorphos foram escolhidos como alvo para
esta missão porque o tamanho da
rocha que será atingida pela sonda é semelhante ao dos asteroides que podem
representar uma ameaça para a Terra. A nave é 100 vezes menor que
Dimorphos, e por isso incapaz de destruir o corpo celeste.
Após a colisão planeada, os cientistas vão recorrer a telescópios terrestres para medir os efeitos no sistema
binário de asteroides e ver se ou conseguiu mudar o período orbital de
Dimorphos, e em que escala, o que permitirá perceber se a missão DART
foi bem-sucedida. Telescópios espaciais como o Hubble, o Webb e a missão Lucy
da NASA também vão estar a postos para observar o embate.
A missão DART foi lançada a 24 de novembro do ano
passado, à “boleia” de um foguetão Falcon 9 da SpaceX, a partir da
Califórnia, nos EUA e nos últimos 10 meses a sonda foi afinando a
rota e preparando-se para a colisão com o asteroide.
Clique nas imagens para mais detalhes sobre a
partida da missão DART para o Espaço
HERA com participação portuguesa entra em ação em 2024
Daqui a dois anos vai ser a altura de lançar a missão HERA, aqui já sob a responsabilidade da ESA, que
levará cerca de dois anos de viagem. A nave espacial da ESA sai em 2024 para
chegar ao destino em 2026 com o objetivo de verificar a cratera do impacto resultante, medir a massa do asteroide e
avaliar a sua composição e estrutura interna.
O “contributo” da agência espacial europeia na missão de defesa planetária
conjunta com a NASA e o AIDA (Asteroid Impact Deflection Assessment) conta com a participação das
portuguesas GMV, Efacec e Synopsis Planet, que serão responsáveis
pelo desenvolvimento de alguns dos elementos fundamentais para o sucesso da
missão, assim como com a participação de um professor e investigador da Universidade de Évora.
A GMV Portugal é responsável
por desenvolver um dos sistemas da sonda, o GNC - Guiamento,
Navegação e Controlo, que permite a condução do veículo em trajetórias no
complexo e desconhecido ambiente de proximidade do sistema de asteroides.
“A equipa em Portugal, especificamente, ficou com a responsabilidade
do desenho das trajetórias,
desenho do sistema de controlo de manobra e contribuição para o sistema de
deteção e recuperação de falhas da sonda”, referiu fonte da GMV ao SAPO
TeK.
“NESTE MOMENTO, O DESENVOLVIMENTO ESTÁ NOS SEUS ÚLTIMOS PASSOS E ESTAMOS A
ENTRAR NA FASE DE TESTES E INTEGRAÇÃO DO NOSSO SUBSISTEMA NA SONDA FINAL”,
ACRESCENTOU.
A contribuição da Efacec para
a HERA, por sua vez, traduz-se no PALT (Planetary ALTimeter). Para o
desenvolver, a empresa lidera um consórcio composto por mais uma empresa
portuguesa, a Synopsis Planet, duas empresas romenas (Efacec-Roménia e INOE) e
uma empresa da Letónia (Eventech).
A Synopsis Planet,
spin-off da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, vai desenvolver o laser microchip do
altímetro da Efacec, além de participar na criação do front-end ótico.
As expectativas da GMV é que estas sejam missões de sucesso, tanto a da NASA no desenvolvimento de
tecnologias de impacto, como a da ESA, que está a criar tecnologias que
permitem manobrar com precisão e autonomamente nas proximidades de asteroides.
“SÃO AMBAS MUITO IMPORTANTES. CONSIDERAMOS IMPORTANTE QUE A HUMANIDADE
AUMENTE O CONHECIMENTO SOBRE ASTEROIDES, DESENVOLVENDO E TESTANDO SOLUÇÕES
TECNOLÓGICAS PARA EXPLORÁ-LOS E, POTENCIALMENTE, PROTEGER O PLANETA DE
COLISÕES”, SUBLINHA A GMV.
De referir que nenhum asteroide está atualmente em rota de colisão direta
com a Terra, mas existem mais de
27.000 asteroides “no radar” do planeta azul, de diferentes formatos e
tamanhos.
Nota da Redação: A
notícia foi atualizada durante a transmissão da missão, desde s 23h de dia 26
de setembro até às 00h36 de dia 27 de setembro.
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