É impossível escrever uma história da música brasileira ou da música cantada em português sem mencionar o nome de Maria Bethânia. Interpretações como “Ronda”, “Negue”, “Olhos Nos Olhos”, “Reconvexo”, “As Canções Que Você Fez Para Mim” fizeram as delícias do público ao longo dos seus mais de 50 anos de carreira. Discos como “Álibi” (1978), “Mel” (1979) ou “Talismã” (1980) ficarão para sempre na história dos discos mais vendidos no Brasil, fazendo de Maria Bethânia a primeira mulher a vender mais de 1 milhão de discos.
Outro grande nome da música brasileira, o seu irmão Caetano Veloso, descreve-a assim:
“Conheço a voz de Bethânia desde dentro: ela foi desenvolvendo pertinho de mim – e tinha os elementos genéticos que estão presentes na minha própria voz, na de meus outros irmãos, na de meus filhos. A personalidade forte de Bethânia sempre foi a que se sente quando ela entra no palco, num restaurante ou em uma sala de estar. Sua voz também sempre foi assim peculiar, com tons de cobre e de água-marinha. É uma textura que veicula sentimento e inteligência intensos e imediatos. É uma voz-pessoa, indissociável. E desde sempre atada à música através da poesia.”
A previsibilidade sempre passou ao largo da trajetória artística da cantora Maria Bethânia. É facto que, após o repentino sucesso com a sua arrebatadora interpretação para a música “Carcará”, em 1965, os mais afoitos a elegeram como uma cantora de protesto, título que ela declinou de imediato. Maria Bethânia, nas afirmações dos mais próximos, sempre soube o que queria cantar. E assim, ela seguiu e prossegue interpretando à sua maneira, única e peculiar, a canção escolhida. O que esperar então de um espetáculo pontuado pelos grandes sucessos desta singular intérprete que ocupa o quinto lugar na lista das 100 maiores vozes da música brasileira de todos os tempos, realizada anos atrás pela revista Rolling Stones Brasil? Surpresas, sempre.
Um repertório pontuado pela tradição e contemporaneidade.
O concerto traz-nos sucessos da sua carreira, músicas dos trabalhos mais recentes e canções inéditas na sua voz. O fio condutor utilizado pela cantora, que também responde pela direção artística e alinhamento, dialoga com os repertórios apresentados. Compositores anteriores à sua geração, compositores contemporâneos e outros que surgiram posteriormente, fazem-se presentes no generoso repertório deste espetáculo: Adelino Moreira (Negue) Paulo Vanzolini (Volta por cima), Caetano Veloso (Reconvexo), Chico Buarque (Olhos nos Olhos), Chico César (Estado de Poesia), Belchior (Galos Noites e Quintais), Xande de Pilares, Carlinhos Madureira e Gilson Bernini (Está Escrito).
Acompanhada pelos músicos Romulo Gomes (contrabaixo), João Camarero (violão de 7 cordas), Lan Lahn (percussão), Paulo Dafilin (violão, viola e guitarra), Marcelo Costa (percussão) e Marcelo Calder (direção, piano e acordeão), Maria Bethânia continua a reinventar-se. Não por coincidência, o espetáculo que já passou pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória da Conquista, Belo Horizonte, impactou uma enorme legião de fãs das mais diversas gerações e tribos.
Maria Bethânia promete um concerto memorável num Festival que parece ter nascido para acolher vozes como esta. Maria Bethânia atua no dia 1 de julho, no próximo Jardins do Marquês – Oeiras Valley.
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