terça-feira, 27 de janeiro de 2015

ARBEIT MACHT FREI " O TRABALHO LIBERTA " ( Oswiecim-POLÓNIA ) - AUCHWITZ - 70 ANOS DEPOIS DO MAIOR CRIME DO SÉCULO XX



CASTA ALVARINHO VAI PODER SER USADA EM TODOS OS VINHO VERDES

A guerra do Alvarinho acabou numa paz inesperada

17/01/2015 - 12:44

O Minho viveu em 2014 uma das mais apaixonadas querelas rurais dos últimos anos, a propósito do alargamento da menção da casta Alvarinho a toda a região dos Vinhos Verdes. A Assembleia da República e a Comissão Europeia envolveram-se nos combates. Após dura negociação, Monção e Melgaço tiveram de ceder os privilégios aos seus vizinhos.
                    

A exclusividade de Monção e Melgaço acabará dentro de seis anos

 Ao longo dos últimos doze meses os cerca de dois mil produtores de vinho dos concelhos de Monção e Melgaço mantiveram uma guerra improvável em defesa de um património genético que acreditam ser da sua inteira propriedade. Geração após geração, os agricultores desses dois concelhos encostados ao rio Minho aproveitaram as condições naturais das suas encostas e o potencial da casta Alvarinho para fazerem vinhos brancos com aromas exóticos, corpo de veludo, uma mineralidade única e um potencial de envelhecimento notável.

O mundo, entretanto, mudou, as regras europeias também e a globalização levou o Alvarinho a todas as regiões do país e a muitas áreas produtoras de outros continentes. Impotentes para evitar a expansão da grande casta branca do país, os agricultores de Monção e Melgaço foram conseguindo proibir que os seus congéneres da sua própria região, os Vinhos Verdes, a usassem nos seus vinhos de categoria superior. Esta semana perderam a batalha decisiva.
Dos dois campos do conflito ouviram-se dezenas de argumentos a favor e contra o alargamento da produção de Alvarinho a todas as zonas do Vinho Verde – hoje, um agricultor de Penafiel, por exemplo, pode plantar a casta, mas se quiser declarar o seu vinho como “Alvarinho” não pode usar a denominação de origem “Vinho Verde” mas apenas a indicação geográfica “Regional Minho” - uma espécie de segunda divisão dos vinhos do Noroeste, com menor valor económico. Em cima da polémica que opôs dois concelhos ao resto da região estiveram noções ancestrais de domínio exclusivo do património genético, bairrismo de pendor rural, preconceitos de classe entre produtores de um vinho que se diz de classe mundial e aqueles que – consideram os primeiros - se dedicam ao “volume” e ao “granel” e, principalmente, interesses de natureza económica. “Foi uma polémica muito marcada pela emoção e pela afectividade”, resume Anselmo Mendes, o enólogo que se tornou num dos emblemas do Alvarinho.
Um dia, sabia-se, a exclusividade da menção do Alvarinho nos Vinhos Verdes dos produtores de Monção e Melgaço teria de acabar, mas, em vez de esperar pela imposição legal, a Comissão de Vitivinicultura da Região (CVRVV) optou por um processo de discussão interna. Em Dezembro de 2013, o debate abriu-se a todos os produtores e desde logo ficou claro que o combate seria duro e difícil. Manuel Pinheiro, presidente da CVRVV fez o papel de capacete azul da ONU e deixou que a discussão seguisse o seu próprio caminho. “Mais do que corrigir problemas, o fundamental era planear o futuro e aí a região acabou por se unir”, diz agora Manuel Pinheiro. Mas, até chegar a este ponto, foi preciso remediar a desunião. Principalmente depois de duas propostas de resolução do PS e do PSD terem sido votadas na Assembleia da República exigindo que se mantivesse a exclusividade do uso da menção Vinho Verde Alvarinho aos produtores dos dois concelhos encostados à margem do rio Minho.
Se até então fora difícil gerar consenso no seio de um grupo de trabalho com dez elementos da produção e do comércio, a intervenção dos partidos agravou ainda mais a situação. “Os políticos aproveitaram esta polémica para ter um pouco de palco”, lamenta Anselmo Mendes, que integrou o grupo de trabalho. Mas quando se julgava que o debate estava condenado a eternizar-se ou a esvaziar-se na indefinição, a Comissão Europeia entra em cena e, em Outubro do ano passado, notifica Portugal que as restrições à rotulagem de Alvarinho são incompatíveis com as regras comunitárias. Acto contínuo, Bruxelas exige uma resposta do Estado até ao final deste mês. Nesta fase, a polémica deixara de ser um conflito bairrista. Tornara-se um assunto que o Governo teria de resolver.
Confrontado com o problema, o secretário de Estado da Agricultura, José Diogo Albuquerque, faz regressar o debate ao ponto zero e pede à CVRVV que volte a reunir as partes desavindas para encontrar uma solução até 15 de Janeiro deste ano. O grupo de trabalho volta a reunir-se. Mas, desta vez, o que estava em causa já não era o sim ou não ao alargamento. Os produtores de Monção e Melgaço sabiam que a sua causa estava perdida. O que importava agora era obter o máximo de concessões para acordarem o alargamento da menção Alvarinho a todos os vinhos com direito à denominação de origem “Vinho Verde”. Foi a essa tarefa que os membros do grupo de trabalho se dedicaram. No final da tarde de segunda-feira, o caderno de encargos para o futuro estava decidido. Todos votaram a favor, com excepção de Pedro Soares, representante da Quinta de Melgaço, uma empresa cuja maioria do capital está nas mãos da autarquia na sequência de uma dádiva de um ex-emigrante no Brasil, Amadeu Abílio Lopes, em 1996. Soares absteve-se.
O último fôlego
Numa última tentativa para travar um acordo, umas quatro centenas de habitantes do concelho de Melgaço deslocaram-se ao Porto para se fazerem ouvir junto do grupo de trabalho que ultimava o documento final.  "Temos que defender o que temos, porque em Melgaço não há fábricas, não há mais nada. O alargamento vai tirar aquilo que é nosso", dizia uma manifestante. O grão-mestre da Real Confraria do Vinho Alvarinho, José Afonso, protestava contra a “usurpação que a restante região quer fazer de um trabalho que foi desenvolvido na viticultura de Monção e Melgaço".
Na produção, os preços praticados parecem dar-lhes razão. Um quilograma de uvas Alvarinho pode valer facilmente mais de um euro em Monção e Melgaço, enquanto a mesma quantidade da mesma casta em outras zonas dos Vinhos Verdes se fica pelos 60 cêntimos e a produção com outras castas regionais vale, segundo Pedro Soares, da Quintas de Melgaço, entre 40 e 45 cêntimos. Só que esta valorização nem sempre tem os reflexos ideais no mercado. A produção da sub-região de Melgaço e Monção não tem sido capaz de acompanhar o dinamismo dos Vinhos Verdes, que à custa das suas ofertas de vinhos frutados, frescos e com um menor teor médio de álcool se tornou uma poderosa máquina de exportação (43,9 milhões de euros entre Janeiro e Outubro do ano passado facturados em 98 países). As vendas regionais de branco, tinto e rosado ascenderam no ano passado a mais de 52 milhões de litros de vinho – os Alvarinho ficaram-se pelos 1,4 milhões de litros.
Como consequência, enquanto na região se fala na necessidade de novas plantações para responder à procura crescente, em Monção e Melgaço têm-se registado excedentes que ajudam a explicar congelamento dos preços a níveis do ano 2000, na avaliação de Manuel Pinheiro. Melgaço e Monção têm atraído o interesse de grandes empresas nacionais, como a João Portugal Ramos, que tem o seu próprio Alvarinho, mas nem a crescente apetência pelos aromas desta casta promoveram grandes melhorias na situação. “Muitos dos Alvarinho mais baratos do mercado são de Monção e Melgaço”, sublinha António Guedes. Mesmo ao nível da qualidade, a discussão sobre o potencial desta sub-região é objecto de discussões. No concurso de 2014 entre os Alvarinho portugueses e galegos, realizado em Bruxelas, um dos dois vencedores da medalha “grande ouro” foi um vinho de Amares – o outro foi um espanhol. Mas entre a crítica especializada parece consensual que os Alvarinhos da Soalheira ou os criados por Anselmo Mendes atingem níveis de qualidade imbatíveis.
O acordo final do grupo de trabalho acaba por reconhecer que há um direito histórico dos produtores de Monção e Melgaço cuja extinção requeria medidas transitórias, compensações financeiras e distinções especiais. O fim da exclusividade acontecerá no prazo de seis anos. Até lá, os Alvarinho da sub-região vão receber meio milhão de euros por ano para se promoverem no exterior. E a sua produção vai poder continuar a ter direito a uma menção especial – inicialmente falou-se em Alvarinho Premium, mas a designação caiu. “Eles ganharam imenso”, diz António Guedes.
Anselmo Mendes concorda, em termos genéricos, mas teria preferido que a sub-região mantivesse um estatuto especial, uma espécie de denominação de origem própria dentro do chapéu dos Vinhos Verdes como existe na Borgonha em relação a, por exemplo, Montrachet. Pedro Soares anuncia que, para já, a polémica fica suspensa, mas lamenta que os produtores da sua região tenham agora de enfrentar a concorrência.
No final da polémica, sobra ainda a história rara de uma região vitícola portuguesa ter sido capaz de resolver uma questão com esta complexidade pelos seus próprios meios, sem ingerências de terceiros. “Chegou-se a um acordo mais cedo do que a maioria das pessoas pensava”, regozija-se Manuel Pinheiro. “O que conseguimos foi muito bom. A Comissão ficou mais forte”, nota António Guedes. Agora, sublinha o presidente da CVRVV, “há que olhar para a frente e concentrar-nos no que interessa: em afirmar o nosso Alvarinho no mundo contra a força do Albariño espanhol”.
“Alvarinho” vai poder ser usado em todos os Vinhos Verdes
14/01/2015 - 19:40
Após uma polémica que durou mais de um ano, um grupo de trabalho aprovou uma decisão que acaba com a exclusividade do uso da casta nos vinhos da denominação de origem “Vinho Verde” aos produtores da sub-região de Melgaço e de Monção.
Depois de várias reuniões em sede da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), o grupo de trabalho, com dez membros, votou a sua decisão final apenas com a abstenção do representante da Quintas de Melgaço, cuja maioria do capital está nas mãos da autarquia. “A região uniu-se e conseguiu chegar a um acordo mais cedo do que inicialmente muitas pessoas acreditavam”, afirma Manuel Pinheiro, presidente da CVRVV.
Em resultado da sua qualidade (para muitos, a Alvarinho é a grande variedade de uvas brancas de Portugal), a casta está plantada em todo o país e, exceptuando no Algarve e na Bairrada, pode dar origem a vinhos com denominação de origem – por exemplo, um Douro Alvarinho ou um Dão Alvarinho. Na sua região originária, porém, e fora de Monção e Melgaço, só podia mencionada no rótulo em vinhos que fossem declarados como “Regional Minho”, a “segunda divisão” da produção regional. Para os produtores da sub-região, o que estava em causa era a protecção de um património que eles construíram nas últimas décadas e a defesa “dos rendimentos dos produtores”, na opinião de Pedro Soares, da Quinta de Melgaço.

No acordo que define os termos da mudança, os produtores de Monção e Melgaço vão poder usar de rótulos e de uma designação distintiva para os seus vinhos e, entre outras medidas, dispor de três milhões de euros nos próximos seis anos para promoção dos vinhos regionais. “Eles ganharam com isso”, diz António Guedes, da Aveleda, que sublinha a importância de a região ter sido capaz de decidir o seu futuro sem intervenção externa. Anselmo Mendes, o enólogo emblemático dos Alvarinho, que fez parte do grupo de trabalho, “fala num acordo razoável” e diz que o futuro da sub-região será melhor se for capaz de destacar o potencial da designação Monção e Melgaço.

MAU,MAU... - 18ª JORNADA PAÇOS DE FERREIRA-BENFICA 1-0 - FIM DE JOGOS SEGUIDOS SEMPRE A MARCAR ( 81 )




domingo, 18 de janeiro de 2015

GAND'A BAILINHO - 17ª JORNADA MARÍTIMO-BENFICA 0-4



SHACKLETON


O gelo venceu o Endurance. Shackleton venceu tudoHá 100 anos, 28 homens partiram a bordo de um navio rumo à Antártida para procurar um feito único: atravessar o continente a pé. O que aconteceu depois de encalharem num banco de gelo é uma das mais extraordinárias histórias de sobrevivência de sempre.



Encalhado. O Endurance, preso no gelo da Antártida, em 1915
Com extremo cuidado, o Endurance avançava lentamente contornando enormes icebergues no mar de Weddell, na Antártida. A tempestade da véspera - que detivera o navio numa espessa placa de gelo - amainara o suficiente para permitir à tripulação içar as velas e navegar por entre densas massas de picos gelados. Aproveitando um longo canal de água que se abrira junto à base de um glaciar, o navio conseguiu percorrer 38 quilómetros até encalhar de novo.
Nessa noite, os 28 tripulantes deitaram-se com a esperança de que o amanhecer trouxesse melhores condições para prosseguir viagem até à baía de Vhasel, a menos de um dia de distância. Nenhum imaginava que o Endurance já não sairia dali, afundando-se dez meses depois, esmagado pelo gelo, e deixando-os entregues à sua sorte. Estávamos a 18 de janeiro de 1915.
Meses antes, em agosto, o Endurance zarpara do porto de Plymouth, no Reino Unido, numa expedição à Antártida liderada por Ernest Shackleton, um dos mais conceituados exploradores polares da época.
Depois de Roald Amundsen ter conquistado o Polo Sul, em 1911, Shackleton perseguia o último grande prémio ainda não reclamado da exploração antártica: a travessia a pé do continente. Chamou-lhe Expedição Transantártica Imperial e seria o último sopro da Idade Heróica da Exploração da Antártida.

"Do ponto de vista sentimental, é a última grande viagem polar que resta fazer. (...) a maior e mais extraordinária de todas as viagens: a travessia do continente", escreveu Shackleton no prospeto da expedição.
O navio seguira em direção a sul, passando pela Madeira, Montevideu e Buenos Aires, onde Shackleton se juntaria à tripulação, juntamente com 69 cães de trenó canadianos. A paragem seguinte, onze dias depois, seria nas remotas estações baleeiras da ilha da Geórgia do Sul, situada às portas do Círculo Polar Antártico. 
Ficam um mês em terra, à espera que o verão austral derreta algum gelo no mar. Em vão. Quando retomam viagem, o Endurance progride despedaçando grandes blocos de gelo. "Sentimos uma grande admiração pelo nosso pequeno e robusto barquito", escreve Frank Hurley, o fotógrafo da expedição, no seu diário de viagem, citado no livro "O Endurance - Encurralados no Gelo", de Caroline Alexander, que acaba de chegar ao mercado português. 
Encurralados no gelo
Com bravura, percorrem em seis semanas mais de 1600 quilómetros de bancos de gelo até ao fatídico dia. Dessa vez, o gelo comprime de tal forma que aprisiona o navio. Durante dias, semanas, meses, a tripulação desespera para poder seguir viagem. Em julho, Shackleton antecipa o pior: "Está quase a chegar o fim... O navio não vai aguentar mais. (...) O que o gelo agarra, o gelo não larga". A 21 de setembro, 10 meses depois de terem encalhado, os 28 homens observam impotentes o Endurance a afundar-se. Estavam entregues à sua sorte, sem possibilidade de resgate.  


Durante os dez meses em que o navio esteve aprisionado, a tripulação organizou jogos de futebol para fintar o tédio, equipa de bombordo contra a de estibordo. Ao domingo, as sessões de canto eram um acontecimento. As noites eram animadas por Leonard Hussey, o popular meteorologista e exímio tocador de banjo. Quando, em maio, o sol desaparece por completo por quatro meses, uns refugiam-se no xadrez, outros preferem as cartas e as damas, e outros ainda os livros ou jogos de adivinhas. Focas e pinguins tornam-se alimentos de eleição. 

"É quase impossível de conceber, mesmo para nós, que estamos em cima de uma jangada de gelo colossal, com apenas 1,5 metros de gelo a separar-nos de um oceano com 2 mil braças de profundidade", escreve Hurley no diário.
O banco à deriva deslocava-se por vezes três quilómetros num dia. A 7 de abril, já depois dos últimos cães terem sido abatidos para alimentar o grupo, os picos da ilha Elefante surgem no horizonte. Dois dias depois, o gelo quebra o suficiente para os homens se lançarem finalmente à água, num bote salva-vidas do Endurance que tinham conseguido salvar. A terra estava à vista mas a sua provação apenas começara.
Por fim terra
Depois de 13 meses presos no gelo, e mais seis dias num mar agitado e com correntes imprevisíveis, pisavam finalmente terra firme, pela primeira vez em 497 dias. Os homens estavam maltratados, extenuados e tensos. Havia quem não dormisse há 90 horas. Alguns, mal pisaram a areia da praia, vaguearam em ziguezague, como se estivessem alcoolizados. Outros pareciam ter ensandecido. Um dos marinheiros pegou num machado e só parou depois de matar 10 focas.  

A ilha era um local inóspito, afastado de qualquer rota marítima. Por isso, oito dias depois do desembarque, Shackleton toma uma decisão que viria a ser decisiva para o resgate do grupo: ele e cinco outros homens navegariam no maior dos botes, o James Caird, rumo à Geórgia do Sul, e aí pediriam ajuda para resgatar o resto do grupo. Poucos acreditavam no sucesso da missão: a ilha estava a 1300 quilómetros de distância, dez vezes mais do que haviam acabado de percorrer. Em pleno inverno, num barco aberto de 7 metros de comprimento, teriam que enfrentar ventos de 130 km/h, vagas de 20 metros e navegar às cegas num mar hostil. Antes de partir, Shackleton deixa uma carta a Frank Wild, que fica responsável pelo grupo da ilha Elefante:
"Caro Senhor
Na eventualidade de eu não sobreviver à viagem de barco até à ilha da Geórgia do Sul, deverá fazer o melhor que puder para salvar resto do grupo. (...) Transmita o meu amor a todos os meus e diga-lhes que dei o meu melhor"
Ernest Schackelton

Os seis homens chegam sãos e salvos à Geórgia do Sul. Tinham enfrentado as condições mais adversas que um marinheiro pode encontrar e completado uma das grandes viagens marítimas de todos os tempos. Mas ainda era cedo para cantarem vitória. 
Em mais uma prova de resistência, Shackleton e dois tripulantes ainda têm que caminhar durante 36 horas sem descanso por um território gelado e adverso, que não conheciam, para chegar à estação baleeira mais próxima. No seu livro "South", o explorador resumiria assim essa travessia: "Tínhamos sofrido, passado fome e triunfado, tínhamos sido humilhados mas vislumbrámos a glória (...). Tínhamos visto Deus no Seu Esplendor e ouvido a voz da Natureza. Tínhamos alcançado a alma nua do homem".
Estávamos em maio de 1916. No final de agosto, mais de ano e meio depois de ter ficado presa no gelo, a restante tripulação do Endurance seria resgatada na ilha Elefante por um pequeno rebocador disponibilizado pelo governo do Chile, depois da recusa do almirantado britânico em ceder um navio, por causa dos esforços da I Guerra Mundial. Quando alcançou a ilha, Shackleton contou 22 silhuetas. Todos os homens tinham sobrevivido. Na carta que enviaria à mulher, escreveu apenas. "Consegui. Maldito almirantado... Não perdemos um único homem e atravessámos o inferno".

NELSON MARQUES (TEXTO) *Fotos retiradas do livro "O Endurance - Encurralados no Gelo", de Caroline Alexander (Planeta) 


terça-feira, 13 de janeiro de 2015

FANTÁSTICO RO,RO,RO… - CR7 CONQUISTA HAT TRICK - 3ª BOLA DE OURO - PARABÉNS RONALDO - O MELHOR DO MUNDO



Não é fácil ganhar a Bola de Ouro FIFA, mas Cristiano Ronaldo está a fazê-lo de forma consistente. Pela terceira ocasião em sete anos, e segunda de forma consecutiva, o português foi considerado o melhor futebolista do mundo. O terceiro triunfo, este relativo a 2014, junta-o aos quatro homens que antes dele foram capazes de receber o prémio mais do que duas vezes. O avançado do Real Madrid repetiu o feito do francês Michel Platini e dos holandeses Johan Cruyff e Marco van Basten. E igualar o recordista Lionel Messi é um objectivo declarado para 2015. “Nunca pensei ganhar três vezes esta ‘bolinha’, mas espero não parar por aqui, espero apanhar o Messi já para a próxima época”, disse no palco da cerimónia em Zurique, Suíça.
O Campeonato do Mundo acabou por não definir a eleição do melhor jogador do planeta. O capitão, tal como a selecção, passou sem influência pelo Brasil, mas não lhe faltaram pontos altos no resto do ano, o quarto consecutivo em que passou a fasquia dos 60 golos (concretamente, 61 em 60 jogos). Ao contrário do que aconteceu há um ano, não lhe faltam títulos para justificar o triunfo para o qual partiu como favorito. Ganhou a Liga dos Campeões, o Mundial de Clubes, a Supertaça Europeia e a Taça do Rei. Individualmente, foi eleito melhor jogador da UEFA e da Liga Espanhola, do qual se sagrou melhor marcador, e ainda conquistou a Bota de Ouro, a terceira da carreira.
O madeirense reuniu 37,66% de todos os votos numa eleição a cargo dos capitães e seleccionadores nacionais e de um grupo de jornalistas, ganhando por uma margem bem mais acentuada do que na edição anterior. Messi (15,76%), autor de 58 golos em 66 jogos e considerado o melhor jogador do Mundial, mas sem nenhum título por Barcelona ou Argentina, ficou em segundo, tal como em 2013. Desde 2008, apenas o português e o argentino, que foi o melhor quatro vezes seguidas, conseguiram arrecadar o prémio de melhor do mundo.
A dobradinha do Bayern Munique e, especialmente, o título mundial da Alemanha, fizeram entrar Manuel Neuer nos três finalistas, mas teve de se contentar com o 3.º lugar (15,72%), a melhor classificação de um guarda-redes desde que o italiano Gianluigi Buffon, também em ano de vitória no Mundial, terminou como “vice”.
Olhando para a lista de vencedores anteriores, marcadamente dominada por avançados ou médios-ofensivos, percebia-se que o alemão corria por fora, pois o soviético Lev Yashin, o lendário “Aranha Negra”, foi o único guarda-redes a ser votado o melhor do mundo, em 1963. Em 2014, Neuer sofreu 40 golos em 62 jogos, conseguindo manter a folha limpa em mais de metade deles (32). O titular do campeão mundial não foi o único jogador do Bayern num lugar de destaque. As três posições seguintes também foram ocupadas por elementos do clube, Arjen Robben (7,17%), Thomas Müller (5,42%) e Philipp Lahm (2,90%).
Mas o dia pertenceu a Cristiano Ronaldo, que a menos de um mês de completar 30 anos engrandeceu ainda mais a sua marca no futebol. Eusébio foi o primeiro português a ganhar a eleição, em 1965, Figo imitou-o em 2000, mas é difícil imaginar quando outro compatriota poderá igualar o madeirense, proprietário de três das cinco Bolas de Ouro arrebatadas por Portugal. “Na primeira vez que fui convidado para esta cerimónia, nunca pensei que isto se repetisse tantas vezes. Estava confiante por causa do ano que tive, mas Messi e Neuer também mereciam”, referiu. Tal como Eusébio, tem oito presenças nos dez melhores do ano. Além das vitórias em 2008, 2013 e 2014 no galardão criado pela revista