terça-feira, 27 de janeiro de 2015
CASTA ALVARINHO VAI PODER SER USADA EM TODOS OS VINHO VERDES
A guerra do Alvarinho acabou numa paz inesperada
17/01/2015 - 12:44
O Minho viveu em 2014 uma das mais
apaixonadas querelas rurais dos últimos anos, a propósito do alargamento da
menção da casta Alvarinho a toda a região dos Vinhos Verdes. A Assembleia da
República e a Comissão Europeia envolveram-se nos combates. Após dura
negociação, Monção e Melgaço tiveram de ceder os privilégios aos seus vizinhos.
A exclusividade de Monção e Melgaço acabará
dentro de seis anos
Ao longo dos últimos doze meses os cerca
de dois mil produtores de vinho dos concelhos de Monção e Melgaço mantiveram
uma guerra improvável em defesa de um património genético que acreditam ser da
sua inteira propriedade. Geração após geração, os agricultores desses dois
concelhos encostados ao rio Minho aproveitaram as condições naturais das suas
encostas e o potencial da casta Alvarinho para fazerem vinhos brancos com
aromas exóticos, corpo de veludo, uma mineralidade única e um potencial de
envelhecimento notável.
O mundo,
entretanto, mudou, as regras europeias também e a globalização levou o
Alvarinho a todas as regiões do país e a muitas áreas produtoras de outros
continentes. Impotentes para evitar a expansão da grande casta branca do país,
os agricultores de Monção e Melgaço foram conseguindo proibir que os seus
congéneres da sua própria região, os Vinhos Verdes, a usassem nos seus vinhos
de categoria superior. Esta semana perderam a batalha decisiva.
Dos dois
campos do conflito ouviram-se dezenas de argumentos a favor e contra o
alargamento da produção de Alvarinho a todas as zonas do Vinho Verde – hoje, um
agricultor de Penafiel, por exemplo, pode plantar a casta, mas se quiser
declarar o seu vinho como “Alvarinho” não pode usar a denominação de origem
“Vinho Verde” mas apenas a indicação geográfica “Regional Minho” - uma espécie
de segunda divisão dos vinhos do Noroeste, com menor valor económico. Em cima
da polémica que opôs dois concelhos ao resto da região estiveram noções
ancestrais de domínio exclusivo do património genético, bairrismo de pendor
rural, preconceitos de classe entre produtores de um vinho que se diz de classe
mundial e aqueles que – consideram os primeiros - se dedicam ao “volume” e ao
“granel” e, principalmente, interesses de natureza económica. “Foi uma polémica
muito marcada pela emoção e pela afectividade”, resume Anselmo Mendes, o enólogo
que se tornou num dos emblemas do Alvarinho.
Um dia,
sabia-se, a exclusividade da menção do Alvarinho nos Vinhos Verdes dos
produtores de Monção e Melgaço teria de acabar, mas, em vez de esperar pela
imposição legal, a Comissão de Vitivinicultura da Região (CVRVV) optou por um
processo de discussão interna. Em Dezembro de 2013, o debate abriu-se a todos
os produtores e desde logo ficou claro que o combate seria duro e difícil.
Manuel Pinheiro, presidente da CVRVV fez o papel de capacete azul da ONU e deixou
que a discussão seguisse o seu próprio caminho. “Mais do que corrigir
problemas, o fundamental era planear o futuro e aí a região acabou por se
unir”, diz agora Manuel Pinheiro. Mas, até chegar a este ponto, foi preciso
remediar a desunião. Principalmente depois de duas propostas de resolução do PS
e do PSD terem sido votadas na Assembleia da República exigindo que se
mantivesse a exclusividade do uso da menção Vinho Verde Alvarinho aos
produtores dos dois concelhos encostados à margem do rio Minho.
Se até
então fora difícil gerar consenso no seio de um grupo de trabalho com dez
elementos da produção e do comércio, a intervenção dos partidos agravou ainda
mais a situação. “Os políticos aproveitaram esta polémica para ter um pouco de
palco”, lamenta Anselmo Mendes, que integrou o grupo de trabalho. Mas quando se
julgava que o debate estava condenado a eternizar-se ou a esvaziar-se na
indefinição, a Comissão Europeia entra em cena e, em Outubro do ano passado,
notifica Portugal que as restrições à rotulagem de Alvarinho são incompatíveis
com as regras comunitárias. Acto contínuo, Bruxelas exige uma resposta do
Estado até ao final deste mês. Nesta fase, a polémica deixara de ser um
conflito bairrista. Tornara-se um assunto que o Governo teria de resolver.
Confrontado
com o problema, o secretário de Estado da Agricultura, José Diogo Albuquerque,
faz regressar o debate ao ponto zero e pede à CVRVV que volte a reunir as
partes desavindas para encontrar uma solução até 15 de Janeiro deste ano. O
grupo de trabalho volta a reunir-se. Mas, desta vez, o que estava em causa já
não era o sim ou não ao alargamento. Os produtores de Monção e Melgaço sabiam
que a sua causa estava perdida. O que importava agora era obter o máximo de
concessões para acordarem o alargamento da menção Alvarinho a todos os vinhos
com direito à denominação de origem “Vinho Verde”. Foi a essa tarefa que os
membros do grupo de trabalho se dedicaram. No final da tarde de segunda-feira,
o caderno de encargos para o futuro estava decidido. Todos votaram a favor, com
excepção de Pedro Soares, representante da Quinta de Melgaço, uma empresa cuja
maioria do capital está nas mãos da autarquia na sequência de uma dádiva de um
ex-emigrante no Brasil, Amadeu Abílio Lopes, em 1996. Soares absteve-se.
O último
fôlego
Numa
última tentativa para travar um acordo, umas quatro centenas de habitantes do
concelho de Melgaço deslocaram-se ao Porto para se fazerem ouvir junto do grupo
de trabalho que ultimava o documento final. "Temos que defender o
que temos, porque em Melgaço não há fábricas, não há mais nada. O alargamento
vai tirar aquilo que é nosso", dizia uma manifestante. O grão-mestre da
Real Confraria do Vinho Alvarinho, José Afonso, protestava contra a “usurpação
que a restante região quer fazer de um trabalho que foi desenvolvido na
viticultura de Monção e Melgaço".
Na
produção, os preços praticados parecem dar-lhes razão. Um quilograma de uvas
Alvarinho pode valer facilmente mais de um euro em Monção e Melgaço, enquanto a
mesma quantidade da mesma casta em outras zonas dos Vinhos Verdes se fica pelos
60 cêntimos e a produção com outras castas regionais vale, segundo Pedro
Soares, da Quintas de Melgaço, entre 40 e 45 cêntimos. Só que esta valorização
nem sempre tem os reflexos ideais no mercado. A produção da sub-região de
Melgaço e Monção não tem sido capaz de acompanhar o dinamismo dos Vinhos
Verdes, que à custa das suas ofertas de vinhos frutados, frescos e com um menor
teor médio de álcool se tornou uma poderosa máquina de exportação (43,9 milhões
de euros entre Janeiro e Outubro do ano passado facturados em 98 países). As
vendas regionais de branco, tinto e rosado ascenderam no ano passado a mais de
52 milhões de litros de vinho – os Alvarinho ficaram-se pelos 1,4 milhões de
litros.
Como
consequência, enquanto na região se fala na necessidade de novas plantações
para responder à procura crescente, em Monção e Melgaço têm-se registado
excedentes que ajudam a explicar congelamento dos preços a níveis do ano 2000,
na avaliação de Manuel Pinheiro. Melgaço e Monção têm atraído o interesse de
grandes empresas nacionais, como a João Portugal Ramos, que tem o seu próprio
Alvarinho, mas nem a crescente apetência pelos aromas desta casta promoveram
grandes melhorias na situação. “Muitos dos Alvarinho mais baratos do mercado
são de Monção e Melgaço”, sublinha António Guedes. Mesmo ao nível da qualidade,
a discussão sobre o potencial desta sub-região é objecto de discussões. No
concurso de 2014 entre os Alvarinho portugueses e galegos, realizado em
Bruxelas, um dos dois vencedores da medalha “grande ouro” foi um vinho de
Amares – o outro foi um espanhol. Mas entre a crítica especializada parece
consensual que os Alvarinhos da Soalheira ou os criados por Anselmo Mendes
atingem níveis de qualidade imbatíveis.
O acordo
final do grupo de trabalho acaba por reconhecer que há um direito histórico dos
produtores de Monção e Melgaço cuja extinção requeria medidas transitórias,
compensações financeiras e distinções especiais. O fim da exclusividade
acontecerá no prazo de seis anos. Até lá, os Alvarinho da sub-região vão
receber meio milhão de euros por ano para se promoverem no exterior. E a sua
produção vai poder continuar a ter direito a uma menção especial – inicialmente
falou-se em Alvarinho Premium, mas a designação caiu. “Eles ganharam imenso”,
diz António Guedes.
Anselmo
Mendes concorda, em termos genéricos, mas teria preferido que a sub-região
mantivesse um estatuto especial, uma espécie de denominação de origem própria
dentro do chapéu dos Vinhos Verdes como existe na Borgonha em relação a, por
exemplo, Montrachet. Pedro Soares anuncia que, para já, a polémica fica
suspensa, mas lamenta que os produtores da sua região tenham agora de enfrentar
a concorrência.
No final
da polémica, sobra ainda a história rara de uma região vitícola portuguesa ter
sido capaz de resolver uma questão com esta complexidade pelos seus próprios
meios, sem ingerências de terceiros. “Chegou-se a um acordo mais cedo do que a
maioria das pessoas pensava”, regozija-se Manuel Pinheiro. “O que conseguimos
foi muito bom. A Comissão ficou mais forte”, nota António Guedes. Agora,
sublinha o presidente da CVRVV, “há que olhar para a frente e concentrar-nos no
que interessa: em afirmar o nosso Alvarinho no mundo contra a força do Albariño
espanhol”.
“Alvarinho” vai poder ser usado em todos os Vinhos Verdes
14/01/2015 - 19:40
Após uma
polémica que durou mais de um ano, um grupo de trabalho aprovou uma decisão que
acaba com a exclusividade do uso da casta nos vinhos da denominação de origem
“Vinho Verde” aos produtores da sub-região de Melgaço e de Monção.
Depois de
várias reuniões em sede da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos
Verdes (CVRVV), o grupo de trabalho, com dez membros, votou a sua decisão final
apenas com a abstenção do representante da Quintas de Melgaço, cuja maioria do
capital está nas mãos da autarquia. “A região uniu-se e conseguiu chegar a um
acordo mais cedo do que inicialmente muitas pessoas acreditavam”, afirma Manuel
Pinheiro, presidente da CVRVV.
Em
resultado da sua qualidade (para muitos, a Alvarinho é a grande variedade de uvas
brancas de Portugal), a casta está plantada em todo o país e, exceptuando no
Algarve e na Bairrada, pode dar origem a vinhos com denominação de origem – por
exemplo, um Douro Alvarinho ou um Dão Alvarinho. Na sua região originária,
porém, e fora de Monção e Melgaço, só podia mencionada no rótulo em vinhos que
fossem declarados como “Regional Minho”, a “segunda divisão” da produção
regional. Para os produtores da sub-região, o que estava em causa era a
protecção de um património que eles construíram nas últimas décadas e a defesa
“dos rendimentos dos produtores”, na opinião de Pedro Soares, da Quinta de
Melgaço.
No acordo
que define os termos da mudança, os produtores de Monção e Melgaço vão poder
usar de rótulos e de uma designação distintiva para os seus vinhos e, entre
outras medidas, dispor de três milhões de euros nos próximos seis anos para
promoção dos vinhos regionais. “Eles ganharam com isso”, diz António Guedes, da
Aveleda, que sublinha a importância de a região ter sido capaz de decidir o seu
futuro sem intervenção externa. Anselmo Mendes, o enólogo emblemático dos
Alvarinho, que fez parte do grupo de trabalho, “fala num acordo razoável” e diz
que o futuro da sub-região será melhor se for capaz de destacar o potencial da
designação Monção e Melgaço.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
domingo, 18 de janeiro de 2015
SHACKLETON
O gelo venceu o Endurance. Shackleton venceu tudoHá 100 anos, 28 homens partiram a bordo de um navio rumo à Antártida para procurar um feito único: atravessar o continente a pé. O que aconteceu depois de encalharem num banco de gelo é uma das mais extraordinárias histórias de sobrevivência de sempre.
Encalhado. O Endurance, preso no gelo da
Antártida, em 1915
Com extremo cuidado, o Endurance
avançava lentamente contornando enormes icebergues no mar de Weddell, na
Antártida. A tempestade da véspera - que detivera o navio numa espessa placa de
gelo - amainara o suficiente para permitir à tripulação içar as velas e navegar
por entre densas massas de picos gelados. Aproveitando um longo canal de água
que se abrira junto à base de um glaciar, o navio conseguiu percorrer 38
quilómetros até encalhar de novo.
Nessa noite, os 28 tripulantes
deitaram-se com a esperança de que o amanhecer trouxesse melhores condições
para prosseguir viagem até à baía de Vhasel, a menos de um dia de distância.
Nenhum imaginava que o Endurance já não sairia dali, afundando-se dez meses
depois, esmagado pelo gelo, e deixando-os entregues à sua sorte. Estávamos
a 18 de janeiro de 1915.
Meses antes, em agosto, o Endurance
zarpara do porto de Plymouth, no Reino Unido, numa expedição à Antártida
liderada por Ernest Shackleton, um dos mais conceituados exploradores polares
da época.
Depois de Roald Amundsen ter conquistado
o Polo Sul, em 1911, Shackleton perseguia o último grande prémio ainda não
reclamado da exploração antártica: a travessia a pé do continente. Chamou-lhe
Expedição Transantártica Imperial e seria o último sopro da Idade Heróica da
Exploração da Antártida.
"Do ponto de vista sentimental, é a
última grande viagem polar que resta fazer. (...) a maior e mais extraordinária
de todas as viagens: a travessia do continente", escreveu Shackleton no
prospeto da expedição.
O navio seguira em direção a sul,
passando pela Madeira, Montevideu e Buenos Aires, onde Shackleton se juntaria à
tripulação, juntamente com 69 cães de trenó canadianos. A paragem seguinte,
onze dias depois, seria nas remotas estações baleeiras da ilha da Geórgia do
Sul, situada às portas do Círculo Polar Antártico.
Ficam um mês em terra, à espera que o
verão austral derreta algum gelo no mar. Em vão. Quando retomam viagem, o
Endurance progride despedaçando grandes blocos de gelo. "Sentimos uma
grande admiração pelo nosso pequeno e robusto barquito", escreve Frank
Hurley, o fotógrafo da expedição, no seu diário de viagem, citado no livro
"O Endurance - Encurralados no Gelo", de Caroline Alexander, que
acaba de chegar ao mercado português.
Encurralados no gelo
Com bravura, percorrem em seis semanas mais de 1600 quilómetros de bancos de gelo até ao fatídico dia. Dessa vez, o gelo comprime de tal forma que aprisiona o navio. Durante dias, semanas, meses, a tripulação desespera para poder seguir viagem. Em julho, Shackleton antecipa o pior: "Está quase a chegar o fim... O navio não vai aguentar mais. (...) O que o gelo agarra, o gelo não larga". A 21 de setembro, 10 meses depois de terem encalhado, os 28 homens observam impotentes o Endurance a afundar-se. Estavam entregues à sua sorte, sem possibilidade de resgate.
Com bravura, percorrem em seis semanas mais de 1600 quilómetros de bancos de gelo até ao fatídico dia. Dessa vez, o gelo comprime de tal forma que aprisiona o navio. Durante dias, semanas, meses, a tripulação desespera para poder seguir viagem. Em julho, Shackleton antecipa o pior: "Está quase a chegar o fim... O navio não vai aguentar mais. (...) O que o gelo agarra, o gelo não larga". A 21 de setembro, 10 meses depois de terem encalhado, os 28 homens observam impotentes o Endurance a afundar-se. Estavam entregues à sua sorte, sem possibilidade de resgate.
Durante os dez meses em que o navio
esteve aprisionado, a tripulação organizou jogos de futebol para fintar o
tédio, equipa de bombordo contra a de estibordo. Ao domingo, as sessões de
canto eram um acontecimento. As noites eram animadas por Leonard Hussey, o
popular meteorologista e exímio tocador de banjo. Quando, em maio, o sol
desaparece por completo por quatro meses, uns refugiam-se no xadrez, outros
preferem as cartas e as damas, e outros ainda os livros ou jogos de adivinhas.
Focas e pinguins tornam-se alimentos de eleição.
"É quase impossível de conceber,
mesmo para nós, que estamos em cima de uma jangada de gelo colossal, com apenas
1,5 metros de gelo a separar-nos de um oceano com 2 mil braças de
profundidade", escreve Hurley no diário.
O banco à deriva deslocava-se por vezes
três quilómetros num dia. A 7 de abril, já depois dos últimos cães terem sido
abatidos para alimentar o grupo, os picos da ilha Elefante surgem no horizonte.
Dois dias depois, o gelo quebra o suficiente para os homens se lançarem finalmente
à água, num bote salva-vidas do Endurance que tinham conseguido salvar. A terra
estava à vista mas a sua provação apenas começara.
Por fim terra
Depois de 13 meses presos no gelo, e mais seis dias num mar agitado e com correntes imprevisíveis, pisavam finalmente terra firme, pela primeira vez em 497 dias. Os homens estavam maltratados, extenuados e tensos. Havia quem não dormisse há 90 horas. Alguns, mal pisaram a areia da praia, vaguearam em ziguezague, como se estivessem alcoolizados. Outros pareciam ter ensandecido. Um dos marinheiros pegou num machado e só parou depois de matar 10 focas.
Depois de 13 meses presos no gelo, e mais seis dias num mar agitado e com correntes imprevisíveis, pisavam finalmente terra firme, pela primeira vez em 497 dias. Os homens estavam maltratados, extenuados e tensos. Havia quem não dormisse há 90 horas. Alguns, mal pisaram a areia da praia, vaguearam em ziguezague, como se estivessem alcoolizados. Outros pareciam ter ensandecido. Um dos marinheiros pegou num machado e só parou depois de matar 10 focas.
A ilha era um local inóspito, afastado
de qualquer rota marítima. Por isso, oito dias depois do desembarque,
Shackleton toma uma decisão que viria a ser decisiva para o resgate do grupo:
ele e cinco outros homens navegariam no maior dos botes, o James Caird, rumo à
Geórgia do Sul, e aí pediriam ajuda para resgatar o resto do grupo. Poucos
acreditavam no sucesso da missão: a ilha estava a 1300 quilómetros de
distância, dez vezes mais do que haviam acabado de percorrer. Em pleno inverno,
num barco aberto de 7 metros de comprimento, teriam que enfrentar ventos de 130
km/h, vagas de 20 metros e navegar às cegas num mar hostil. Antes de partir,
Shackleton deixa uma carta a Frank Wild, que fica responsável pelo grupo da
ilha Elefante:
"Caro Senhor
Na eventualidade de eu não sobreviver à viagem de barco até à ilha da Geórgia do Sul, deverá fazer o melhor que puder para salvar resto do grupo. (...) Transmita o meu amor a todos os meus e diga-lhes que dei o meu melhor"
Ernest Schackelton
Na eventualidade de eu não sobreviver à viagem de barco até à ilha da Geórgia do Sul, deverá fazer o melhor que puder para salvar resto do grupo. (...) Transmita o meu amor a todos os meus e diga-lhes que dei o meu melhor"
Ernest Schackelton
Os seis homens chegam sãos e salvos à
Geórgia do Sul. Tinham enfrentado as condições mais adversas que um marinheiro
pode encontrar e completado uma das grandes viagens marítimas de todos os
tempos. Mas ainda era cedo para cantarem vitória.
Em mais uma prova de resistência,
Shackleton e dois tripulantes ainda têm que caminhar durante 36 horas sem
descanso por um território gelado e adverso, que não conheciam, para chegar à
estação baleeira mais próxima. No seu livro "South", o explorador
resumiria assim essa travessia: "Tínhamos sofrido, passado fome e
triunfado, tínhamos sido humilhados mas vislumbrámos a glória (...). Tínhamos
visto Deus no Seu Esplendor e ouvido a voz da Natureza. Tínhamos alcançado a
alma nua do homem".
Estávamos em maio de 1916. No final de
agosto, mais de ano e meio depois de ter ficado presa no gelo, a restante
tripulação do Endurance seria resgatada na ilha Elefante por um pequeno
rebocador disponibilizado pelo governo do Chile, depois da recusa do
almirantado britânico em ceder um navio, por causa dos esforços da I Guerra
Mundial. Quando alcançou a ilha, Shackleton contou 22 silhuetas. Todos os
homens tinham sobrevivido. Na carta que enviaria à mulher, escreveu apenas.
"Consegui. Maldito almirantado... Não perdemos um único homem e
atravessámos o inferno".
NELSON MARQUES (TEXTO) *Fotos retiradas do livro "O
Endurance - Encurralados no Gelo", de Caroline Alexander (Planeta)
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
FANTÁSTICO RO,RO,RO… - CR7 CONQUISTA HAT TRICK - 3ª BOLA DE OURO - PARABÉNS RONALDO - O MELHOR DO MUNDO
Não
é fácil ganhar a Bola de Ouro FIFA, mas Cristiano Ronaldo está a fazê-lo de
forma consistente. Pela terceira ocasião em sete anos, e segunda de forma
consecutiva, o português foi considerado o melhor futebolista do mundo. O
terceiro triunfo, este relativo a 2014, junta-o aos quatro homens que antes
dele foram capazes de receber o prémio mais do que duas vezes. O avançado do
Real Madrid repetiu o feito do francês Michel Platini e dos holandeses Johan
Cruyff e Marco van Basten. E igualar o recordista Lionel Messi é um objectivo
declarado para 2015. “Nunca pensei ganhar três vezes esta ‘bolinha’, mas espero
não parar por aqui, espero apanhar o Messi já para a próxima época”, disse no
palco da cerimónia em Zurique, Suíça.
O Campeonato do Mundo
acabou por não definir a eleição do melhor jogador do planeta. O capitão, tal
como a selecção, passou sem influência pelo Brasil, mas não lhe faltaram pontos
altos no resto do ano, o quarto consecutivo em que passou a fasquia dos 60
golos (concretamente, 61 em 60 jogos). Ao contrário do que aconteceu há um ano,
não lhe faltam títulos para justificar o triunfo para o qual partiu como
favorito. Ganhou a Liga dos Campeões, o Mundial de Clubes, a Supertaça Europeia
e a Taça do Rei. Individualmente, foi eleito melhor jogador da UEFA e da Liga
Espanhola, do qual se sagrou melhor marcador, e ainda conquistou a Bota de
Ouro, a terceira da carreira.
O
madeirense reuniu 37,66% de todos os votos numa eleição a cargo dos capitães e
seleccionadores nacionais e de um grupo de jornalistas, ganhando por uma margem
bem mais acentuada do que na edição anterior. Messi (15,76%), autor de 58 golos
em 66 jogos e considerado o melhor jogador do Mundial, mas sem nenhum título
por Barcelona ou Argentina, ficou em segundo, tal como em 2013. Desde 2008, apenas
o português e o argentino, que foi o melhor quatro vezes seguidas, conseguiram
arrecadar o prémio de melhor do mundo.
A
dobradinha do Bayern Munique e, especialmente, o título mundial da Alemanha,
fizeram entrar Manuel Neuer nos três finalistas, mas teve de se contentar com o
3.º lugar (15,72%), a melhor classificação de um guarda-redes desde que o
italiano Gianluigi Buffon, também em ano de vitória no Mundial, terminou como
“vice”.
Olhando
para a lista de vencedores anteriores, marcadamente dominada por avançados ou
médios-ofensivos, percebia-se que o alemão corria por fora, pois o soviético
Lev Yashin, o lendário “Aranha Negra”, foi o único guarda-redes a ser votado o
melhor do mundo, em 1963. Em 2014, Neuer sofreu 40 golos em 62 jogos,
conseguindo manter a folha limpa em mais de metade deles (32). O titular do
campeão mundial não foi o único jogador do Bayern num lugar de destaque. As
três posições seguintes também foram ocupadas por elementos do clube, Arjen
Robben (7,17%), Thomas Müller (5,42%) e Philipp Lahm (2,90%).
Mas o dia pertenceu a
Cristiano Ronaldo, que a menos de um mês de completar 30 anos engrandeceu ainda
mais a sua marca no futebol. Eusébio foi o primeiro português a ganhar a
eleição, em 1965, Figo imitou-o em 2000, mas é difícil imaginar quando outro
compatriota poderá igualar o madeirense, proprietário de três das cinco Bolas
de Ouro arrebatadas por Portugal. “Na primeira vez que fui convidado para esta
cerimónia, nunca pensei que isto se repetisse tantas vezes. Estava confiante
por causa do ano que tive, mas Messi e Neuer também mereciam”, referiu. Tal
como Eusébio, tem oito presenças nos dez melhores do ano. Além das vitórias em
2008, 2013 e 2014 no galardão criado pela revista
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
sábado, 10 de janeiro de 2015
sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
sexta-feira, 2 de janeiro de 2015
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