segunda-feira, 27 de janeiro de 2020
sexta-feira, 24 de janeiro de 2020
JÁ TENHO MUITO MAIS PASSADO DO QUE FUTURO . ENTÃO COMEÇAS A VER AS COISAS DE OUTRO MODO.
Contei meus anos
E descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente
Do que já vivi até agora
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras ele chupou displicente,
Mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
Cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis,
Para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias
Que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
Que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigam pelo
Majestoso cargo de secretário-geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
Minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
Muito humana; que sabe rir de seus tropeços,
Não se encanta com triunfos,
Não se considera eleita antes da hora,
Não foge da sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
Mário de Andrade
terça-feira, 21 de janeiro de 2020
sábado, 18 de janeiro de 2020
quinta-feira, 16 de janeiro de 2020
quarta-feira, 15 de janeiro de 2020
terça-feira, 14 de janeiro de 2020
MADONNA - MADAME-X
Quando Ary dos Santos
escreveu o poema, que viria a ser cantado por Carlos do Carmo, não imaginava
que alguém um dia o utilizaria para abrir um texto sobre Madonna. Mas, também,
quem sonhava que a rainha da pop se mudaria um dia para a cidade que mesmo não
sendo sempre maravilhosa, tem encantos mil. Alguns deles inspiraram
"Madame-X", disco que será apresentado no Coliseu de Lisboa em oito
datas, a primeira este domingo. Silêncio, que se vai continuar a fazer
história.
Antes de ser Madonna,
era Ciccone, estudante de piano e ballet e, mais tarde, de dança contemporânea
— foi a sua professora, Martha Graham, que a apelidou de "Madame X",
alcunha que repescaria para o título do seu último álbum. De uma das dançarinas
do artista disco francês Patrick Hernandez passou para os Breakfast Club, com o
namorado Dan Gilroy, onde cantava e tocava bateria e guitarra. O primeiro single surgiu
em 1982, pelas mãos da Sire: 'Everybody'.
Começava aqui uma
carreira de sucesso imenso e polémica a acompanhar. Se o primeiro álbum a solo,
homónimo (1983) deu ao mundo canções como "Borderlin" e
"Holiday", foi com "Like A Virgin" (1984) que Madonna se
começou a transformar, definitivamente, na "Rainha da Pop". Jovens de
todos os cantos começaram a copiar o seu estilo: calças até ao joelho, meias de
rede, crucifixos e cabelo pintado de louro. Críticos mais conservadores
acusavam-na de estar a promover o sexo antes do casamento e de estar a querer
"destruir as famílias".
"True Blue",
o seu álbum de maior sucesso comercial (mais de 25 milhões de cópias vendidas,
pela força de temas como "Papa Don't Preach" ou 'La Isla
Bonita"), surgiu em 1986. Começaram a surgir propostas para filmes, como
"Who's That Girl", que também deu nome a uma digressão de sucesso.
"Like a Prayer", em 1989, fez de Madonna pária no Vaticano: o vídeo,
onde a cantora sonhava fazer amor com santos, deixou furiosa a Igreja Católica.
Que não poderia prever o que se seguiria: "Erotica", álbum de 1982, e
"Sex", livro repleto de fotografias explícitas.
No final dos anos 90,
Madonna, que sempre esteve atenta às movimentações do underground musical,
editaria o álbum que é ainda hoje dos mais aclamados pela crítica: "Ray of
Light", manifesto de música de dança eletrónica construído com a ajuda do
produtor William Orbit, ao qual se seguiu "Music" e o mal amado
"American Life", onde o ativismo político não disfarçava a fraqueza
de algumas canções (o vídeo do tema-título, que mostrava George W. Bush como
alvo de uma granada arremesada pela própria Madonna, foi alvo de enormes
críticas e, eventualmente, substituído por um outro, mais suave).
"Confessions on a
Dance Floor", de 2005, recuperaria a música de dança, dos ABBA ao house
francês, e foi porventura o último grande "clássico" de Madonna -
"Hard Candy", "MDNA" e "Rebel Heart" passaram
praticamente despercebidos. Até que a cantora se reencontrou em Lisboa,
editando "Madame X", inspirada pelas músicas de Cabo Verde e pelo
fado bem português.
Madame-Lisboa
Em 2018, quando
completou 60 anos, Madonna disse numa entrevista à revista italiana Vogue que a
temporada recente em Lisboa a influenciou no processo criativo deste álbum.
"Conheci imensos
músicos maravilhosos e acabei por trabalhar com muitos deles no meu novo disco,
por isso, sim, Lisboa influenciou a música e o meu trabalho. Como não
influenciar? Não sei como é que eu teria passado este ano sem ter conhecido
toda esta cultura", disse a cantora norte-americana na entrevista.
E as declarações de
amor continuaram — mesmo tendo assumido ao The York Times ter sentido alguma
solidão numa Lisboa "medieval" que "parece um lugar onde o tempo
parou".
"Lisboa é onde o
meu disco nasceu. Encontrei lá a minha tribo e um mundo mágico de músicos
incríveis que reforçaram a minha crença de que as músicas à volta do mundo
estão todas ligadas e são a alma do universo", disse por ocasião do
anúncio do tão esperado álbum.
Em declarações à
revista Visão, numa entrevista conjunta com jornalistas internacionais em
Londres, Madonna voltou a assumir que "Madame X" é "um
reflexo" do seu tempo em Lisboa.
Aliás, "Killers
Who Are Partying", a primeira canção composta para o disco e onde se ouve
Madonna a arranhar um português tropical a cantar o verso 'o mundo é selvagem,
o caminho é solitário', teve origem numa guitarra portuguesa. “Comecei com a
guitarra portuguesa e também com a guitarra da morna, que ouvi numa living
room session em Lisboa. O disco foi construído à volta desse som em
Killers, a primeira canção escrita para o álbum”, conta.
“Espero que o meu
português seja bom”, atirou logo no início da entrevista coletiva, onde a
jornalista da Visão era a única portuguesa presente. O “professor”, fez questão
de esclarecer, foi o cantor Dino d’Santiago. "O Dino foi fundamental,
ajudou-me muito a criar este álbum", acrescentou.
Em julho do ano passado, em entrevista ao SAPO24,
o músico contou como tudo aconteceu. "Ela não ia gravar nada, estava a escrever um livro,
estava a preparar um filme, mas a partir do momento que conheceu esta realidade
[de Lisboa], começou a desenhar um disco. Desenhou um disco com base nestas
influências todas".
Mas, ao contrário do
que se previa, o cabo-verdiano de Quarteira não entrou no disco. Entra a carga
dramática do fado e a guitarra portuguesa de Gaspar Varela (bisneto de Celeste
Rodrigues). Num álbum cantado a três línguas (português, espanhol e inglês),
entra também a influência da música lusófona, de Cabo Verde a Guiné, passando
pelo Brasil — com uma versão de "Faz Gostoso", da cantora portuguesa
Blaya, num dueto com Anitta. Entra a morna, o crioulo e o batuque —
responsabilidade da Orquestra de Batukadeiras de Portugal, que andam em
digressão com Madonna.
"Quando as
Batukadeiras foram tocar para a Madonna, elas nem sabiam quem era ela. Sabiam
do fenómeno Madonna, só. E foram elas, de tudo o que lhe mostrei, dos sons de
Moçambique a Cabo Verde, quem mais a impressionou", recordou Dino
d'Santiago ao SAPO24.
A digressão conta
ainda com a trompetista portuguesa Jessica Pina, os percussionistas Carlos
Mil-Homens e Miroca Paris.
Madonna trocou, em
2017, Nova Iorque por Lisboa para que o seu filho David Banda treinasse futebol
nas camadas jovens do Benfica. “A última coisa que se esperaria de uma rapariga
controversa como eu era tornar-me numa soccer mom em Lisboa”,
disse numa entrevista à MTV. Mas foi o que aconteceu.
Na mudança para a
capital, começou por instalar-se no hotel Pestana Palace. Depois de
equacionar trocar Lisboa por Sintra ou pela Ericeira, a cantora mudou-se para o
Palácio do Ramalhete, na Rua das Janelas Verdes, no bairro de Santos. A nova localização fez correr tinta face à cedência de 15 lugares de
estacionamento, a troco de 720 euros mensais, por parte da Câmara
Municipal de Lisboa. A última e atual morada fica na zona de Santa Catarina,
próximo do miradouro do Adamastor. Além de David, vivem em
Portugal Mercy James (13 anos) e as gémeas Stella e Estere, de 7 anos —
filhos não biológicos da cantora.
Se a imprensa não a largou,
os lisboetas parecem ter sido discretos. "As pessoas em Lisboa geralmente
deixam-me em paz. De vez em quando alguém pede-me uma foto ou um autógrafo, mas
eu tiro muitas sem problemas", conta Madonna na segunda parte da sua
entrevista com a revista Vogue Itália.
Para além dos passeios
noturnos por Alfama, os passeios a cavalo na Comporta ou a Alcácer fizeram
fizeram parte da sua rotina. "Há muitas zonas em volta onde podes ir andar
a cavalo, e cada vez que o meu filho não tem jogo ao domingo, o dia torna-se
uma aventura em que podemos escolher um local para andar a cavalo", contou
numa das entrevistas.
Mas nem tudo foi
positivo. Um dos primeiros problemas da cantora em Portugal foi... tentar
convencer a alfândega de que era era 'a' Madonna. "Quando passas a semana
a tentar convencer a alfândega de que és mesmo a Madonna e, mesmo assim, eles
não libertam a tua encomenda", lia-se numa publicação na sua conta de
Instagram onde a cantora aparecia com um ar de poucos amigos.
Madonna quis ainda
levar um cavalo para dentro de um palacete em Sintra para a gravação de um
videoclip, mas foi-lhe negada a autorização. A cantora terá reagido mal,
tentando reverter a decisão da câmara. À data, em declarações
ao Expresso, Basílio Horta, presidente da Câmara de Sintra, defendeu
que “há coisas que o dinheiro não paga”.
O-i-t-o datas no Coliseu
Pelos quais se paga, e
bem, são os concertos da artista em terras lusas, com os preços a chegar aos
três dígitos. Bilhetes ainda há, mas apenas para os camarotes superiores e a um
valor de 200 euros.
Depois da América, a
série de oito concertos (a 12, 14, 16, 18, 19, 21, 22 e 23 de janeiro) que dará
na capital inaugura a digressão europeia de apresentação do novo disco.
Esta será a sexta
passagem da artista por palcos nacionais. A sua estreia aconteceu em 2004
com a "Re-Invention Tour", na Altice Arena (ainda com o
nome Pavilhão Atlântico). Regressou no ano seguinte para atuar nos MTV
Europe Music Awards, na mesma sala. Em 2008 foi a vez do Parque da Bela
Vista receber a "Sticky & Sweet Tour" e em 2012 rumou à cidade
dos estudantes para um concerto no Estádio Cidade de Coimbra com a
"MDNA Tour". Agora será a vez do Coliseu de Lisboa a receber.
'Sala tão pequena...!?'. Sim. Madonna quer proporcionar aos fãs uma
experiência intimista inspirada no que encontrou nas casas de fado e
de amigos em Portugal.
Espera-se, ainda, um
concerto bastante visual. Só não fique com a expectativa de ver fotos ou vídeos
a circular pelas redes sociais — a não ser o que for partilhado pela própria
artista. O concerto é "uma experiência sem telefones" e o uso de
telemóveis, smart watches e acessórios, câmaras ou outros
aparelhos de gravação não será permitido durante o espetáculo. Todos
estes dispositivos serão guardados numa caixa hermética à porta da sala e
apenas recuperados no final do concerto.
Sobre o alinhamento, e
de acordo com o Setlist.fm, o concerto será dividido em quatro atos mais
um encore. A produção cénica incluirá a reinvenção de uma casa de
fados e a interpretação de "Fado Pechincha", com o guitarrista Gaspar
Varela. No total serão ouvidas 21 músicas, entre clássicos e novos temas. De
fora fica "Faz Gostoso", mas pode haver surpresas.
segunda-feira, 13 de janeiro de 2020
MADONNA - MADAME-X
SIM... FOI MUITO BOM! NA MINHA MODESTA OPINIÃO O CONCERTO FOI SOBERBAMENTE FANTÁSTICO, RESPIRA LIBERDADE, BEBE OPTIMISMO E INSPIRA ESPERANÇA. E ACIMA DE TUDO, É GENUÍNO. ELA SABE SER UMA GRANDE PESSOA. WELCOME HOME MAD. ADOREI O TEU FADITO.
🙂 😎😁
🙂 😎😁
Dos 79 concertos inicialmente previstos,Practicamente um quarto 18 foram anulados ou adiados. O primeiro, originalmente agendado para o dia 15 de setembro, foi desmarcado devido a problemas de produção e atrasos na montagem do equipamento de palco, uma situação que se viria a repetir no espetáculo de 12 de novembro, em Los Angeles. Em outubro, novembro e dezembro de 2019 e em janeiro, fevereiro e março de 2020, Madonna falhou 14 atuações, duas delas em Lisboa, devido a problemas de saúde, uma lesão muscular na anca que também lhe afeta a mobilidade de uma das pernas. "Apesar dos desafios, das dores e da chuva, estou muito agradecia por esta noite", assumiu Madonna na terceira noite em Lisboa, pouco antes de se despedir e de sair do palco a cantar, atravessando o corredor central da plateia do Coliseu dos Recreios.
11.03.2020
domingo, 12 de janeiro de 2020
sábado, 11 de janeiro de 2020
sexta-feira, 10 de janeiro de 2020
DOENÇA DOS VIKINGS - FASCIOCTOMIA PALMAR - DOENÇA DE DUPUYTREN - OPERAÇÃO MÃO - PARTE II
DOENÇA DOS VIKINGS
Rev Port Ortop Traum 21(3): 313-322, 2013
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Doença de Dupuytren
Uma visão atual sobre a doença
Sara Machado
Serviço de Ortopedia e Traumatologia. Centro Hospitalar de S. João. Porto. Portugal.
Sara Machado
Interna do Complementar de Ortopedia Assistente Convidada de Anatomia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Serviço de Ortopedia e Traumatologia Centro Hospitalar de S. João
Submetido em: 22 fevereiro 2013 Revisto em: 19 agosto 2013 Aceite em: 19 agosto 2013
Publicação eletrónica em: 23 setembro 2013
Tipo de Estudo: Terapêutico
Nível de Evidência: IV
Declaração de conflito de interesses:
Nada a declarar.
Correspondência:
Sara Machado
Serviço de Ortopedia e Traumatologia Centro Hospitalar de S. João Alameda Prof. Hernâni Monteiro 4200 319 Porto
RESUMO
A doença de Dupuytren, descrita pela primeira vez há centenas de anos, continua a ser protagonista numa evolução constante de conhecimentos. Trata-se de uma patologia fibroproliferativa da mão, potencialmente progressiva e incapacitante, de clara predisposição genética. Novos conhecimentos surgiram no âmbito da anatomia e patofisiologia, com implicações na abordagem terapêutica. Várias estratégias de tratamento foram propostas nos últimos anos assim como vários foram os estudos que as tentaram avaliar. Foi realizada uma pesquisa no pubmed/medline com as palavras “Dupuytren disease”, selecionando sobretudo artigos publicados nos últimos 5 anos, incluindo artigos originais e de revisão, tendo por objetivo reunir os conhecimentos mais recentes nas várias dimensões da doença, nomeadamente procurando clarificar o papel dos vários métodos de tratamento disponíveis na atualidade.
INTRODUÇÃO
A doença de Dupuytren (DD) foi descrita há mais de 400 anos pelo médico suiço Felix Plater[1], embora mais reconhecida a partir da descrição do anatomista e cirurgião francês Baron Guillaume Dupuytre em 1831, o primeiro a descrever o tratamento cirúrgico desta patologia[2]. Trata-se de um tumor desmóide/ fibromatose palmar resultante da fibroproliferação dos tecidos, podendo conduzir à contração em flexão incapacitante da mão, impossibilitando o doente de realizar as mais simples atividades da vida diária.
EPIDEMIOLOGIA
A prevalência da DD aumenta com a idade, sendo mais frequente a partir dos 40 anos, com o ratio homem/mulher podendo atingir o valor de 5,9:1. A prevalência da DD é extremamente variável de acordo com a localização geográfica, sendo superior no Norte da Europa (ficou conhecida como a “doença dos Vikings”) e incomum na Ásia e África. Os valores variam de 0,2% até 56%, para o que pode contribuir fatores genéticos, ambientais ou uma combinação de ambos[3,4,5].
ANATOMOPATOLOGIA
É fundamental compreender a complexa anatomia da fáscia palmar (Figura 1) para a correta avaliação e tratamento da doença. A fáscia palmar divide-se em três partes – digital, palmodigital e palmar, dividindo-se esta última nas aponevroses radial, cubital e central (a mais diretamente envolvida na doença). Longitudinalmente, a aponevrose central organiza-se distalmente nas bandas pré-tendinosas, que se bifurcam inserindo-se na derme, nas estruturas flexoras e extensoras dos dedos, e em torno da articulação metacarpo-falângica profundas aos feixes neuro-vasculares originando as bandas espirais que emergem posicionando-se laterais aos feixes. Da aponevrose central, além das fibras longitudinais, partem também fibras verticais – fibras de Grapow e septos de Legueu e Juvara - e transversais – ligamento transverso superficial, proximalmente e ligamentos natatórios, distalmente[6,7].
Na DD as bandas e ligamentos sãos, por fibroproliferação, transformam-se em tecido doente, designado por nódulos e cordas.
No quadro I são descritas as principais deformidades associadas a cada corda.
Quadro I. Deformidades associadas à doença de Dupuytren.
Corda
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Deformidade
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Cordas pré-tendinosas
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Flexão MCF
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Cordas espirais
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Flexão MCF+IFP
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Cordas natatórias
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Limitação da abdução dos dedos
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Cordas centrais
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Flexão IFP
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Cordas laterais
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Flexão IFP+IFD
|
MCF- articulação metacarpo-falângica;
IFP- articulação interfalângica proximal;
IFD- articulação interfalângica distal
Os conhecimentos que se foram adquirindo até à data sobre a anatomia da fáscia palmar têm implicações não só na compreensão da doença mas também no aperfeiçoamento da técnica cirúrgica. O desenvolvimento das cordas, nomeadamente das cordas espirais, pode deslocar os feixe neuro-vasculares para a linha média do dedo, que assim pode ser lesado durante a incisão na pele na ausência do conhecimento dessa possível posição anómala do feixe por parte do cirurgião.
Figura 1. Anatomia da fáscia palmar.
ETIOLOGIA
A DD resulta de uma simbiose entre fatores genéticos e ambientais.
Genética: Há uma clara predisposição genética para o desenvolvimento da DD. Acredita-se que se trate de Transmissão Autossómica Dominante com Penetrância Variável.
Inicialmente foi proposta uma associação ao cromossoma 16q, onde se localizarão genes envolvidos na produção do colagénio. Pensa-se que na doença haja uma superativação dos genes responsáveis pela produção de colagénio e inibição dos genes responsáveis pela sua destruição[8]. Posteriormente, foram reportadas alterações no número de cópias dos genes nas regiões cromossómicas 10q22, 16p12.1 e 17p12, associações com o alelo HLA-DRB1*15 e uma mutação no rRNA 16s. Foram ainda demonstradas associações genéticas com os cromossomas 6 e11[5,9,10].
Embora ainda haja um longo caminho a percorrer no campo da genética na DD, todas as associações estabelecidas contribuirão para uma via fisiopatológica comum que em última análise resulta na fibroproliferação tecidular caraterística da doença.
Ambiente Tabaco e Álcool
Estudos demonstraram que o tabaco e o alcoolismo elevam o risco de desenvolver a doença, com um odds ratios de 2,8:1 e 1,8:1 respetivamente[5,11,12].
Diabetes mellitus
Associações estatisticamente significativas foram também efetuadas entre a DD e a Diabetes mellitus(DM), tipo I mais que a tipo II. Num estudo de Noble, Heathcote and Cohen a incidência da doença nos diabéticos foi de 43%. A idade de início e a duração da DM é significativa no desenvolvimento da DD. Após 20 anos, 67% dos diabéticos tipo I desenvolveram DD[5,11,12].
Outras associações
Menos consistente é a associação da DD com a epilepsia/medicação antiepilética, HIV e trabalho manual, com exceção no trabalho manual implicando vibração da mão. Dois estudos apresentaram evidência de uma relação dose-resposta para a associação com a exposição à vibração[5,11,12].
PATOFISIOLOGIA
Na DD o tecido da fáscia palmar apresenta um aumento na deposição de colagénio tipo III relativamente ao colagénio tipo I (principal componente da fáscia palmar saudável).
Foram descritos 3 estadios para a doença - proliferativo, involucional e residual - que possui dois elementos fibróticos estruturalmente distintos: o nódulo, altamente vascularizado e rico em miofibroblastos que expressam a α- actina típica do músculo liso , e as cordas, mais avasculares, acelulares, ricas em colagénio III e pobres em miofibroblastos. A expressão da α-actina pode explicar a contratilidade observada na DD. Os nódulos podem transformar-se em cordas com a progressão da doença. Inicialmente pensava-se que as cordas seriam totalmente acelulares, estáticas e o produto final dos nódulos, contudo estudos mais recentes demonstraram que os nódulos podem estar presente no seio das cordas em graus variáveis, que possuem assim ainda alguma celularidade.
O miofibroblasto desempenha um papel central na DD, e partilha caraterísticas com as células do músculo liso e os fibroblastos, conduzindo à contração e deposição de colagénio III típicas da doença. Vários mediadores inflamatórios estão aumentados nos tecidos da DD como o fator transformador de crescimento (TGF- ß), fator de crescimento dos fibroblastos (FGF), fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF), fator de crescimento epidérmico (EGF) e interleucina-1 (IL-1), sinalizando a diferenciação e proliferação dos miofibroblastos. Estes mediadores inflamatórios são libertados em resposta radicais livres de oxigénio que por sua vez se originam devido a fenómenos isquémicos secundários a uma angiopatia microvascular. Esta lesão microvascular terá origem multifatorial, com contribuição de fatores genéticos, idade, sexo, tabaco, álcool diabetes mellitus ou trauma[5,13 14,15]. Portanto segundo os estudos mais recentes, todos os fatores etiológicos citados anteriormente culminam numa via comum aqui descrita e resumida na Figura 2.
Figura 2. Fisiopatologia da doença de Dupuytren.
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
Inicialmente há um espessamento e retração da pele, que adquire um aspeto enrugado, com reentrâncias, o que não deve ser confundido com calosidades. Posteriormente os doentes podem notar o surgimento de nódulos. Estes são habitualmente distais à prega de flexão distal da palma e indolores, embora alguns doentes refiram sensibilidade ao toque, sensação de prurido ou queimor. Com o desenrolar da doença os nódulos podem progredir para cordas estáticas, contraídas e fixas à pele subjacente podendo lembrar o aspeto de tendões flexores, e nos estádios
mais avançados da doença conduzir à flexão, por vezes incapacitante, dos dedos[16]. O doente pode ser incapaz de colocar a mão reta sobre uma mesa – “table top test”/teste de Hueston (Figura 3) É importante não confundir os estádios mais precoces da DD com outras patologias, por exemplo hiperqueratose, tenosinovite estenosante, entre outras[17].
Por ordem decrescente de frequência, o dedo mais atingido é: anelar, 5º dedo, 3º dedo, 2º dedo, e por fim1ºdedo.A flexão da articulação MCF normalmente precede a flexão da articulação IFP. Geralmente a doença inicia-se na palma e propaga-se para os dedos, mas é possível estar apenas na palma ou apenas nos dedos ou em locais ectópicos como nódulos de Garrod IFP (dorsal) ou no punho[(17].Na maioria a doença progride lentamente, durante anos. Cerca de 50% dos doentes com nódulos desenvolvem cordas, e destes apenas alguns necessitam de tratamento cirúrgico. A bilateralidade está presente em aproximadamente 59% dos homens e 43% das mulheres com a doença. Em 5% dos indivíduos pode associar-se à fibromatose plantar, doença de Ledderhose, e em 3% à fibromatose peniana, doença de Peyroni[16,17].
Figura 3. Evolução clínica da doença de Dupuytren.
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