sábado, 1 de janeiro de 2022

GIN

Em 1999, o mundo conhecia o gin Hendrick's e, com ele, uma história que nos embrenha na verdejante Escócia do século XIX, num período fascinante, a época vitoriana. Uma narrativa que envolve rigor para encontrar um equilíbro de sabores inusitado, complexo, embora suave e subtil. Mas também o de uma bebida que viaja a um mundo peculiar e extravagante.




As terras altas da Venezuela, na América do Sul, são um território de florestas tropicais densas, povoadas de mistério, montanhas abruptas e rios que serpenteiam sob a fronde do arvoredo. Um mundo exótico que há muito atrai apaixonados pela fauna e flora riquíssimas. Em 2013, a britânica Leslie Gracie atravessou o Atlântico, desde a Escócia, para se juntar ao explorador venezuelano Charles Brewer-Carias e ao seu conterrâneo, o botânico Francisco Delascio. O primeiro, conhecedor da floresta amazónica, o segundo, experiente estudioso da flora da região. O trio embrenhou-se por dez dias na selva. Leslie procurava sementes, raízes, flores e frutas. Consigo, levava um pequeno alambique. No calor tropical, frente ao espanto de uma tribo amazónica, Leslie destilou os elementos botânicos recolhidos nos dias anteriores. Um odor único embrenhou-se nas copas das árvores. A seis mil quilómetros da destilaria escocesa da Hendrick's onde é Master Distiller desde 1998, Leslie captou o espírito complexo dos elementos botânicos do Novo Mundo. A mulher que se juntou à destilaria que revolucionou a forma como bebemos e percebemos o gin, adicionou novos ingredientes ao complexo catálogo de botânicos de uma casa cujas origens remontam ao século XIX e a uma saga familiar.

Um novo e irrequieto mundo

A aventura sul-americana de Leslie, uma química de formação e especialista em sabores, teve um carácter inusitado, o mesmo é dizer raro, ao juntar ao fascínio da descoberta, a curiosidade e a reinvenção. Neste século XXI, Hendrick's mantém um espírito idêntico àquele que, em plena época vitoriana, levou o escocês William Grant e os seus sete filhos e duas filhas a erguerem uma destilaria no seu país natal. O ano, 1886; o local, Girvan, na verdejante e fresca costa ocidental do país. As Ilhas Britânicas viviam, então, num novo e irrequieto mundo. As cidades cresciam, a indústria abria a porta a novos produtos, a literatura ganhava nomes como o de Charles Dickens, inventava-se o Futebol, a fotografia desafiava as artes convencionais, animais e plantas exóticas invadiam o quotidiano, vindos dos quatro cantos do mundo. Um tempo de fascínio que deixaria rasto nas décadas posteriores.

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“O diabo está nos detalhes”

Cem anos medeiam entre a construção da destilaria por William Grant e a decisão do seu bisneto, Charles Gordon, em adquirir, corria o ano de 1966, dois alambiques pouco comuns. Por 33 anos, o alambique Carter Head e o seu par, o alambique Bennet, descansaram antes de lhes ser dado um destino. Este, chegaria em 1998, quando Charles Gordon contrata Leslie Gracie para desenvolver um novo gin. Em 1999, o mundo conhecia o gin Hendrick's e com ele, uma nova celebração para uma bebida centenária, destilada à base de cereais, passando por um processo de infusão com zimbro e outros botânicos.

Produzido com 11 botânicos, entre eles a camomila, sementes de coentro e de cominho, flor de sabugueiro e raiz de lírio Hendrick's adiciona ao seu gin dois ingredientes que o fazem uma peça singular: a essência de pepino e as fragrantes rosas. O resultado é um gin complexo, embora de travo subtil e suave, num jogo de desafio para as papilas gustativas.



Um dos símbolos da Hendrick's Gin, o duplo alambique adquirido em 1966 por Charles Gordon, bisneto do fundador de uma destilaria na Escócia.  créditos: Hendrick's

É uso dizer-se que “o diabo está nos detalhes” ou, no caso concreto, em todo o complexo processo de manufatura de um gin preparado em pequenos lotes de 500 litros para se aconchegar numa garrafa desenhada ao pormenor e que nos remete para as antigas garrafas medicinais. Na origem, o gin e o seu espírito eram tidos como um bálsamo para inúmeras maleitas. Hoje, é uma bebida de celebração, e encontros, de otimismo e alegria. Para desfrutar tão simples quanto possível, com água tónica, umas pedras de gelo, embora com o toque inusitado que Hendrick's pede: sirva-o num copo largo, dispense a rodela de limão e substitua-a por uma rodela de pepino. Decore com pétalas de rosa e algumas bagas de zimbro. E, se o caminho for fazer do gin inspiração para cocktails, prepare-os com o espírito de festa e de originalidade.

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Este ano, ao oferecer gin Hendrick's não o deixe órfão desta história. Conte-a à família e amigos, tempere-a com a efervescência e surrealismo da época vitoriana, recorde Leslie Gracie e o seu gabinete de curiosidades instalado no Palácio do Gin Hendrick's e onde a especialista em botânicos exerce a magia da criação de novos sabores. Finalmente, deambule pelas aventuras amazónicas e escocesas, pela fragrância das rosas e a excentricidade do pepino, ao preparar um gin para quem lhe está próximo.

 


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