PODIAS TER FICADO NO BRASIL - NÃO ÉS BEM VINDO LAGARTO
Jorge Jesus está perto de assumir o cargo de novo técnico do Benfica, num regresso a uma casa que há cinco anos deixou para rumar ao seu clube de coração e rival dos encarnados, o Sporting, num processo que, na altura, gerou atritos e trocas de palavras acesas entre as várias partes envolvidas. Recordamos aqui alguns dos momentos mais marcantes.
Quando, em junho de 2015, se tornou público que Jorge Jesus trocaria o Benfica pelo Sporting, o clube da Luz fez saber que não só não iria pagar o último mês de salário do treinador, como também processaria o técnico por quebra “unilateral e sem justa causa” do contrato. Segundo o gabinete jurídico das águias, tal constituiria motivo para que Jesus pagasse “a cláusula indemnizatória correspondente e que estava estipulada no contrato”, ou seja, “sete milhões e meio de euros”.
“Um contrato não deve ser encarado de forma leviana e com o chico-espertismo de quem acha que tudo lhe é permitido”, dizia a 17 de agosto de 2015 João Gabriel, então diretor de comunicação encarnado, ao Expresso. “Não é por ter ganho três títulos de campeão nacional e por poder continuar a ganhar fora daqui, não é por isso que deixa de ser um deslumbrado que acha que o mundo gira todo à volta dele, que entende que é melhor que Mourinho mas nunca conseguiu nada de relevante na Champions, que vê os seus jogadores e adjuntos como peças descartáveis, que acha que todos têm a aprender com ele, mas ele não tem nada a aprender de ninguém…” concluía.
Jorge Jesus não respondeu diretamente às declarações de João Gabriel nem à questão do último mês de salário na Luz, preferindo apontar a mira ao seu sucessor, Rui Vitória. A troca de palavras começou ainda antes do primeiro jogo oficial da época, a Supertaça Cândido de Oliveira, que iria opor precisamente Sporting e Benfica: “as ideias que estão lá são todas minhas. O Benfica não mudou nada, zero. Vou jogar contra uma equipa com ideias minhas. Eu cheguei ao Sporting e mudei tudo. O cérebro já não está lá (no Benfica), o treino não vai ser o mesmo, mas tudo aquilo continua”, dizia Jesus em antevisão ao jogo, a 6 de agosto. Sobre estas palavras, viria a dizer um mês depois que tinha tentado “que aquilo que disse mexesse um pouco com ele (Rui Vitória) e com o Benfica. Levou aquilo para o lado que eu queria, que era um Benfica mais da cabeça dele e menos da minha. Foi por aí que partiu a vantagem do Sporting, claramente”.
Entretanto, o Benfica decidiu mover novo processo contra o treinador, alegando danos não patrimoniais causados pela ida de JJ para Alvalade. Noticiava a Sábado a 15 de outubro de 2015 que as águias haviam pedido uma indemnização pela “quebra de contrato unilateral e sem justa causa”, à qual acresce, por um lado, a falta de “lealdade” e a oferta ao Sporting do “modus operandi e a tecnologia, os técnicos, os métodos” adquiridos na Luz. O valor “simbólico” da indemnização seria de 1 euro por adepto ou simpatizante do SL Benfica, ou seja, na versão do clube, “14 milhões de euros”.
Depois de uma vitória convincente por 0-3 na Luz (feito que o Sporting não conseguia há 82 anos, na altura), Jorge Jesus voltou a atacar o rival: “É fácil depois de ganhar responder a Rui Vitória. Hoje, podíamos ter ganhado por mais. O Benfica não teve uma oportunidade de golo. Era fácil pôr o Rui Vitória deste tamanhinho (juntando o indicador e o polegar), mas não ponho. Vou respeitá-lo”. Já no início de 2016, mais uma declaração que marcou a época desportiva, com a célebre alusão a uma conhecida marca de carros de luxo italiana: “Como não o qualifico (Rui Vitória) como treinador, logo não sou mau colega. Para ser treinador, ele tem de ser muito mais. Fi-lo sair da toca. Para treinar o Benfica ele tem de se assumir. Para conduzir um Ferrari tem de ter andamento para ele”, dizia Jesus.
A verdade é que Jesus acabaria por deixar o Sporting sem conseguir ser campeão pelo clube de Alvalade, tendo vivido um último ano muito conturbado com os leões, que culminou com o ataque à Academia de Alcochete e a saída por mútuo acordo do técnico amadorense. A próxima paragem seria a Arábia Saudita, onde deu algumas entrevistas em que abordou a sua carreira em Portugal e a sua relação com Luís Filipe Vieira, com quem, garante, sempre manteve uma boa amizade. “Sou muito amigo de Luís Filipe Vieira e vou continuar a ser. Quando fui para o Sporting, houve uns quatro, cinco meses, em que ele defendia os interesses do Benfica eu defendia do Sporting, mas fomos sempre amigos e almoçávamos juntos”, confessava à SportTV em agosto de 2018.
Já Vieira preferiu, desde a saída do técnico em 2015, defender a posição do Benfica, atacando a atitude de Jesus. “Uma das maiores virtudes que aprecio nas pessoas é gratidão. A gratidão define o caráter das pessoas. Não há insubstituíveis nesta casa, mesmo que alguns pensem que o são. Estou desiludido, mas não surpreso”, disse o Presidente no jantar anual de 2015 com os deputados benfiquistas da AR, a 4 de junho.
Já em 2019, Vieira voltava a dizer numa reunião com associados do clube que, com ele à frente da SAD, Jorge Jesus não voltaria a ser o treinador do Benfica. No entanto, a escolha para tentar a reconquista dos objetivos da equipa de futebol em 2020/21 está tomada e será mesmo o regresso do técnico de 65 anos
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