Traçada por um padre flamengo para lançar tiros de canhão ao mar está agora de portas abertas para
turistas, depois de obras que custaram dois milhões de euros. E com paredes reversiveis, caso a câmara mude de ideias.
Construida inicialmente para proteger a vila piscatória de
Sesimbra de ataques corsários, a Fortaleza de Santiago, em Sesimbra, está agora
pronta para ser invadida por turistas.
A Câmara de Sesimbra abriu nesta sexta-feira as portas da fortaleza
ao público depois de obras de requalificação total do
edifício que rondaram os dois milhões de euros,
parte deles provenientes de fundos comunitários, e que se iniciaram em 2011.
O uso militar está perdido nas brumas da memória. Turismo, lazer
e cultura são agora as palavras de ordem. Entre as novidades conta-se uma
cafetaria com esplanada no baluarte poente, perto de uma guarita com vista para
o mar. O posto de turismo está instalado no antigo Quartel do Ajudante. Há
ainda espaços para exposições e outras
actividades culturais. Para o futuro próximo está previsto o Museu Marítimo de
Sesimbra.
No que diz respeito às obras, a autarquia garante que se tratou
de um trabalho minucioso e especializado, sempre muito bem documentado e
acompanhado por técnicos ligados à história e à arqueologia, com a intenção de preservar,
ao máximo, a estrutura inicial.
Primeiro houve o arranjo das fachadas e muralhas. As paredes,
pisos e estruturas que não faziam
parte da fortaleza original foram removidas. Depois partiu-se para o interior,
com a substituição dos pisos antigos que se encontravam degradados, especialmente
na zona da casa do Governador e das antigas camaratas.
Na maior parte dos casos, foi colocado novo reboco com composição compatível com o existente. Mas no Quartel do Ajudante foi
necessário o reforço com betão devido a
um lençol de água que atravessa a Fortaleza no sentido da Rua Cândido dos Reis e é responsável pela cedência de parte da estrutura.
A intervenção é
reversível. As obras evitaram roços nas
paredes originais para passagem de infraestruturas tais como canalizações ou tubagens para águas, luz e telecomunicações. Para o efeito foram colocadas paredes técnicas. A solução permite que numa futura intervenção em que se
pretenda dar um novo uso à fortaleza baste remover as paredes técnicas para a
estrutura primitiva reaparecer intacta.
As obras agora concluídas surgiram depois de a câmara ter iniciado uma negociação, em 2006,
com a GNR, a anterior proprietária. A cedência deu-se em 2010. Com este acordo,
a autarquia tomou posse plena da ala nascente, que correspondia sensivelmente a
metade dos edifícios, por um período de 87 anos. Já com as obras em curso foi
finalmente alcançado um acordo que deu posse definitiva da totalidade do
monumento à Câmara Municipal de Sesimbra.
Traça de um padre flamengo
Quando o padre jesuíta flamengo Jan Ciermans chega a Lisboa, em 1641, aos 39 anos, a ordem era para partir para a China. Mas a Companhia de Jesus foi incapaz de competir com o rei D. João IV que o recruta para fortificar o reino, uma necessidade vital, uma vez que Espanha recusava aceitar a Independência restaurada em Dezembro de 1640.
Quando o padre jesuíta flamengo Jan Ciermans chega a Lisboa, em 1641, aos 39 anos, a ordem era para partir para a China. Mas a Companhia de Jesus foi incapaz de competir com o rei D. João IV que o recruta para fortificar o reino, uma necessidade vital, uma vez que Espanha recusava aceitar a Independência restaurada em Dezembro de 1640.
E Jan Ciermans, que Portugal há-de conhecer por João“Pascácio” Cosmander, era um perito na arte de fortificar.
Grande parte das praças-fortes
alentejanas tiveram a sua intervenção directa ou
indirecta até à sua morte em 1648, ganhando baluartes de base geométrica, mais
complexos que os antigos muros medievais.
Para Sesimbra deixou traçada uma
fortaleza com dois baluartes, duas plataformas de tiro com capacidade para
albergar, pelo menos, seis peças de canhão cada.
Nas obras do baluarte nascente foi encontrada uma muralha e
evidências da fortaleza ter sido construída sobre as ruínas do Forte de Ancua,
uma antiga fortificação
parcialmente destruída no dia 3 de Julho de 1602, no decurso de um combate
naval que decorreu na proximidade da Baía de Sesimbra, durante a guerra
Anglo-Espanhola.
RICARDO VILHENA - PÚBLICO
Sem comentários:
Enviar um comentário